Por entre o que passa

José Luís Nunes Martins, i-online 13 Out 2012
Não é fácil ver o eterno no nevoeiro do efémero. Por vezes, resignamo-nos à natureza aparentemente temporária de tudo, quando, na verdade, a eternidade está ao nosso alcance

É quase impossível lembrarmo-nos do que fizemos há um ano atrás, em que assuntos pensámos, o que nos preocupava... a menos que tenha ocorrido um evento dramático, o mais comum é que toda essa realidade se tenha desvanecido completamente da memória.
Tudo vai passando e o sucedido há 4 anos se confunda já com o que ocorreu há 10 e, por sua vez, com sonhos que entretanto foram preteridos mas que agora estão arrumados na categoria de memórias.
O essencial é, fica; o superficial passa. Em momentos de crise, torna-se muito mais fácil distinguir as realidades das aparências, as verdades das mentiras, o que é importante do que, afinal, não é.
O tempo, como um rio, envolve-nos. Tal como à água não conseguimos segurá-lo. Há tristezas que surgem das coisas boas que passam, mas também alegrias das más que passam também. Alguns julgam que morrem a cada momento e que assim se vão perdendo no tempo que passa. Chegam até a pensar que o nada tem valor... mas, a realidade é exactamente o oposto: porque o mundo passa, há todo um caudal de realidade que ainda não chegou a nós... uma torrente oportunidades, pessoas e circunstâncias que surgirão do nada como que jorradas de uma fonte de vida!
Enquanto muitos olham para trás, para o que já perderam e o que já foram; outros há que, com os mesmos olhos e a mesma capacidade para pensar, compreendem que a vida não passa, mas dura; que não vamos morrendo a cada minuto que passa, mas sim vivendo cada um dos que brotam diante de nós; que a vida é afinal muito mais do que um conjunto de pequenos nadas que passam, um milagre tremendo onde tudo o que por nós passa nos vai lapidando e polindo, ao ponto de nos tornarmos pedras preciosas, que nada pode destruir. Pedras vivas. Fortes. De onde até pode nascer água.
Não é fácil ver o eterno no nevoeiro do efémero. Por vezes, resignamo-nos à natureza aparentemente temporária de tudo... quando, na verdade, a eternidade está ao nosso alcance. Depende da forma como vivemos, aqui e agora, da forma como olhamos e pensamos a realidade que nos rodeia, em última análise, da capacidade de fazermos a diferença na vida dos outros.
Pode o tempo escapar-nos inevitavelmente por entre os dedos, mas a felicidade não. O Amor é o coração da vida que se sente no mais fundo de nós; a raiz da nossa força. Aquilo que nos permite ser mais que... passageiros.
Há que acreditar na nossa capacidade de ser diferentes, de fazer a diferença. Criadores do que não passa, da própria eternidade. A Fé não leva ninguém a ajoelhar-se perante a fatalidade dos acontecimentos e assim esperar por momentos bons. A Fé é a vontade de criar, com as próprias mãos, um mundo melhor, a força que nos anima na luta contra o que não é senão mera aparência. A Fé é a certeza de que os nossos ombros servem para carregar o preço da felicidade dos outros.
Quem se resigna, vai com as coisas que passam, até se perder para sempre no oceano dos egoísmos... convencido até ao último instante que não há outra forma. Que foi condenado, à partida, à tristeza eterna.
Não. Cada um de nós pode e deve ser feliz. Não nos percamos pois em retrospectivas. Olhe-se para o futuro, para o constante milagre da vida que jorra de lá e nos vem abraçar...
Tudo está em aberto. Sermos felizes de verdade, da felicidade que não passa, depende unicamente de nós – da capacidade de lutarmos por aquilo que somos e queremos ser. Amando. Que esse é o caminho. Podemos cair, uma, duas, mil vezes, mas não há cruz que os nossos ombros não suportem. Acreditando sempre que ser feliz é erguer-se por entre o que passa.

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