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A mostrar mensagens de março, 2016

Feriados

Nuno Melo JN 31 Março 2016 às 00:02 As esquerdas modernas nascidas dos delírios marxista, estalinista, leninista, trotskista, maoista, enverhoxhista e quejandos conservam a consistência ideológica da gelatina. Aburguesaram-se. Perderam-se no deslumbramento dos salões do poder que finalmente provaram e de que gostaram. Trocaram o fascínio dos jargões revolucionários, pela conveniência do "socialismo" onde cabe tudo. E defendem, consoante as circunstâncias, uma coisa e o seu contrário, com a mesma facilidade com que acreditam que dois dias depois já ninguém se lembrará de coisa nenhuma. De Portugal à Grécia, com a Espanha pelo caminho, vai sendo assim. O radicalismo que rendeu votos a Tsipras, Iglesias e Louçã, cedeu lugar à vontade de disputar o centro, na ilusão - ou talvez não - da partilha dos despojos do Pasok, PSOE e por este caminho, do PS, a prazo. Há dias repuseram-se feriados. Dois religiosos - Corpo de Deus e 1 de novembro (Dia de Todos os Santos) - e dois

O lugar do outro

Paulo Tunhas Observador, 2016.03.31 O jogador de xadrez deve pensar que o adversário visa a sua destruição no tabuleiro. Uma das glórias maiores de Maquiavel foi precisamente ter levado esse tipo de pensamento às últimas consequências. A questão do lugar do outro, e a questão das razões pelas quais nos devemos colocar no lugar do outro, são velhas questões da filosofia. Não das mais velhas, certamente, pelo menos se tivermos em conta a sua formulação explícita, mas mesmo assim velhas questões. Em Leibniz e Kant, por exemplo, no seguimento do cristianismo, elas encontram-se claramente formuladas. E, como quase todas as questões filosóficas verdadeiramente substantivas, por mais abstractas que a linguagem filosófica as faça parecer, elas são susceptíveis de serem traduzidas na linguagem da nossa experiência comum que, à superfície e no fundo, é sempre aquilo que interessa mais. O que diz respeito a todos, ou a quase todos, é sempre aquilo que interessa mais. Leibniz é, como se

8 dicas para acabar com o seu casamento

António Pimenta de Brito Observador 31/3/2016 Boa sorte. Quero dizer, boa desgraça. No próximo episódio desenvolveremos o seguinte tema: como lidar com as dívidas depois do divórcio, as depressões dos filhos e a partilha dos fins de semana. Deixe de conversar com a sua mulher e desabafe com amigos, familiares e, sobretudo, com outras mulheres e “amigas”, aquelas queridas que só querem ser suas “confidentes” (mas que o levariam para a cama sem pestanejar). Pense que há coisas tão íntimas que o vão desmascarar e dar a parte fraca. Não confidencie com a sua mulher, nem pensar. Entregou a sua vida por ela, mas há muita gente à sua volta ávida de saber dos podres e a necessitar de conteúdos para conversas. Não os deixe sós. Depois, não é muito cómodo interromper a sua vida na ribalta ou a sua carreira de sucesso e mais dois bebés com coisas de somenos. Então não é o maior? Nunca conversa com a cara-metade? Há uma imagem para manter e muitas bocas para alimentar, seria um descalabro

Morre-se depressa demais

Isabel Stilwell ionline 2016.03.30 Consumimos as alegrias e os desgostos à velocidade da luz. Depois perguntamo-nos de onde vem a ansiedade e a depressão.  Vivemos tão depressa que damos por nós a entrar num centro comercial e a não saber em que estação do ano estamos. Com os saldos de Verão a começarem antes do Verão vir sequer marcado no calendário, ficamos com a ideia de que já não vale a pena comprar um fato-de-banho porque o Outono está mesmo a chegar. Confusos, rebuscamos na memória os dias longos de praia, os jantares na varanda, as férias, e concluímos que o nosso cérebro se desgastou de tanto uso, porque as recordações que temos parecem antigas e, no entanto, a avaliar pela colecção Outono/Inverno que enche as páginas das revistas, só pode ter sido ontem.  Não entendíamos quando, em pequenos, nos diziam que o Natal não demorava nada e os dias rolavam penosamente, ou que tarda nada fazíamos anos, e o “tarda nada” era mesmo tarde e parecia-nos nunca mais chegar. Mas,

Os elogios do PS a Cristas

José António Saraiva | SOL | 31/03/2016 Ontem, na Assembleia da República, o presidente do PS, Carlos César, elogiou Assunção Cristas. Disse César: «O atrelado  CDS  livrou-se do rebocador  PSD , ganhou motor e passou-lhe à frente. Parabéns CDS!». A estratégia do PS, portanto, é mostrar ao país que a esquerda e o CDS de Cristas estão em alegre consonância – e apenas o PSD se mantém no ‘contra’. Passos Coelho é, pois, o desmancha-prazeres. Esta estratégia parece emocionar algumas pessoas no próprio PSD, que dizem que Passos tem de deixar de olhar para o passado e pôr os olhos no presente. Poucos parecem perceber o óbvio: o pior que pode acontecer à oposição é ser elogiada pelo Governo. O pior que pode acontecer a Assunção Cristas é começar a ser elogiada por Carlos César e António Costa. Isso significa que Cristas não faz mossa. Mais: que até pode ser uma aliada do Governo. Mas, se assim é, em futuras eleições os habituais votantes centristas hesitarão: será que vale a p

O poder corrompe? O PCP e o BE respondem

Luís Aguiar-Conraria Observador 30/3/2016 Sabemos quem mais lucrou com o BANIF não ter chegado a 2016: os detentores de depósitos superiores a 100.000€ e de obrigações seniores. Conseguirão o PCP e BE na Comissão de Inquérito explicar porquê? Partidos que estão sistematicamente fora do poder, e que a ele não ambicionam, são partidos descomprometidos. Isso permite-lhes ser irresponsáveis. O que, dependendo das circunstâncias, pode ser bom ou mau. Durante décadas quer o Partido Comunista Português quer o Bloco de Esquerda estiveram fora do chamado arco de governação. Actualmente, apesar de não estarem no governo, estão comprometidos com a governação. Isso enriquece a democracia por um lado, mas tenho medo que a empobreça por outro. Com o PCP e o BE fora do poder, estes partidos puderam ficar fora de parte da teia de interesses que capturou o Estado. Mais livre o BE do que o PCP, que sempre foi um partido mais institucional (por causa quer da sua importância autárquica e sindic

Parvoíce em Estado Puro

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O meu quintal   MARÇO 31, 2016  ~  PAULO GUINOTE Pode ser que este tipo de declarações aparvalhadas  deixe em êxtase algumas esquerdas mais histriónicas e que trocam o pensamento pelo lugar comum mais básico, com fundamentação em “estudos” que, se excluirmos os relatórios da OCDE feitos pelo especialista do costume, nunca conseguem nomear com rigor. É bem verdade que neste milénio os nossos primeiros ministros se excederam na arte do disparate sempre que falam em Educação. António Costa é apenas mais um, só que com menos desculpas, por razões de ordem familiar. Ou não, pois nunca se sabe o que anda pela cabeça das pessoas. Já me cansei de tentar que se distinguisse uma prova final com 30% de peso na classificação de um exame eliminatório. É escusado; pior do que gente burra é aquela gente que sabe que está a distorcer a verdade mas o faz por conveniência demagógica e populista. É o que acho de muita gente do PS e do Bloco a este respeito. Sabem que estão a falsear a verdade, mas

Os interrogatórios a Sócrates devem ser divulgados?

JOÃO MIGUEL TAVARES Público 31/03/2016 - 00:05 A defesa da privacidade e do segredo de justiça não podem ignorar o dever de prestar contas quando estão em causa crimes tão graves. Imaginemos que até hoje nada se sabia do processo envolvendo José Sócrates, para além dos crimes de que é suspeito: corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal. O segredo de justiça teria sido rigorosamente preservado; o Ministério Público, como é seu hábito, emitiria somente comunicados obscuros em português gongórico; e o ex-primeiro-ministro andaria entretido a fazer digressões pelas televisões e auditórios do país, queixando-se de perseguições, cabalas e urdiduras, e indignando-se perante a terrível infâmia a que estava a ser sujeito. Pergunta: enquanto participantes num espaço público, nós estaríamos mais mal ou mais bem servidos com tão cumpridora ignorância? A resposta é óbvia. Embora haja um problema evidente com o segredo de justiça em Portugal, a ter de escolher entre um sistema

Dinheiro não é capital

João César das Neves DN 2016.03.31  Em Portugal não há capital." A frase do banqueiro José Maria Ricciardi ao Expresso do passado dia 25 é uma das mais importantes afirmações sobre a economia portuguesa. Só se entende o que se passou e vai passar por cá quem souber que aqui não há capital. Infelizmente muitos, mesmo em posições de topo, ignoram ou tentam esconder esta realidade. A economia cresce pouco ou nada porque não há capital. O país está à venda e as pessoas emigram porque não há capital. Os bancos andam anémicos, a dívida é enorme e as contas públicas não equilibram simplesmente porque não há capital. Isto é assim há décadas. Agora temos um governo que não gosta do capital, mas já antes não havia. Todos os sintomas que vemos à nossa volta mostram a falta de capital e todas as descrições da nossa crise são formas diferentes de constatar essa ausência. Por que razão não há capital? Não é por sermos um país pobre; primeiro porque não somos, e segundo porque quando

Devoção reparadora dos 5 Primeiros Sábados

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O futuro Made in Portugal

Stephan Morais Observador 29/3/2016 Portugal, integrado na União Europeia, e apesar de muitos portugueses não terem essa consciência, é hoje em dia uma das mais avançadas economias do mundo - e será ainda mais no futuro. Nos últimos anos assistiu-se em Portugal a uma verdadeira revolução de inovação, em particular em novas empresas dedicadas à tecnologia – as startups. De uma posição de partida de praticamente inexistência, passámos para um país onde as startups fazem capas de revistas e onde proliferam em todo o país incubadoras e aceleradoras de empresas. É um movimento que, apesar de ser em parte uma moda, é muito benéfico para um país que em geral tem baixa auto-confiança e pouca visibilidade positiva internacional. E, na realidade, algumas startups portuguesas começam já a conseguir angariar dezenas de milhões de euros junto de investidores internacionais (e nacionais) tanto em Londres como em Silicon Valley, algo inédito na história económica de um país tradicionalment

O blog Povo faz hoje 8 anos

No dia 30 de Março de 2008, o Povo iniciou-se no mundo dos blogues. Até aí era apenas uma mailing list que só chegava aos seus leitores por uma mensagem, tentativamente diária de e-mail. Desde então todas as mensagens e respectivos anexos (imagens, por exemplo) passaram a poder ficar armazenadas no blog http://o-povo.blogspot.com  e catalogadas por assuntos. Esta foi a primeira mensagem arquivada no blog:  Alteracoes a lei do divorcio, novidades no Povo e "Divorcio abre nova guerra" .  De então para cá o Povo acumulou (e catalogou) 10 857 artigos ( posts ) e foi visto 2 337 665 vezes ( pageviews ).

Agnosticismo

O agnosticismo é uma coisa admirável desde que admita que a coisa que não compreende possa ser superior à mente que não a compreende G. K. Chesterton

Jesuítas, Construtores da Globalização

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De Rerum natura , 2016.03.29 No dia 18 de Março, os CTT - Correios de Portugal lançaram uma emissão filatélica dedicada aos «Jesuítas, construtores da globalização». É uma emissão de quatro selos e um bloco filatélico, com trabalho gráfico de Design&etc. Em breve sairá um livro dos CTT com o mesmo título da autoria de José Eduardo Franco e Carlos Fiolhais. Transcrevo o texto da pagela que acompanha a edição filatélica. A entrada da Companhia de Jesus em Portugal, em 1540, constituiu um dos eventos mais assinaláveis da nossa cultura. Em paralelo com o esforço missionário intercontinental, a Ordem fundada por Inácio de Loyola ergueu entre nós, em poucas décadas, uma rede de instituições de ensino secundário, chamadas colégios, e universidades (criou a segunda universidade portuguesa, em Évora, em 1659). Com base numa metodologia de ensino nova, os Jesuítas criaram a primeira rede de ensino da nossa história que se ligava com instituições de ensino regidas pelo mes

Como rezar o Regina Caeli?

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senza pagare , 2016.03.29 Durante o tempo pascal, que vai do Domingo de Páscoa até ao Pentecostes, em vez da Oração do Anjo (Angelus) reza-se o Regina Caeli, para sublinhar a alegria cristã pela ressurreição do Senhor. Português: V. Rainha do Céu, alegrai-vos, Aleluia! R. Porque Aquele que merecestes trazer em Vosso ventre, Aleluia! V. Ressuscitou como disse, Aleluia! R. Rogai por nós a Deus, Aleluia! V. Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria, Aleluia! R. Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, Aleluia! Oremos.  Ó Deus, que Vos dignastes alegrar o mundo com a Ressurreição do vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, concedei-nos, Vos suplicamos, a graça de alcançarmos pela protecção da Virgem Maria, Sua Mãe, a glória da vida eterna. Pelo mesmo Cristo Nosso Senhor. Ámen. Latim: V. Regina caeli, laetare, alleluia.  R. Quia quem meruisti portare, alleluia.  V. Resurrexit, sicut dixit, alleluia.  R. Ora pro nobis Deum, alleluia.  V. Ga

Na cabeça de Francisco Louçã

JOÃO MIGUEL TAVARES Público 29/03/2016 - 07:58 Um dia eu gostaria de conseguir compreender uma cabeça de esquerda como a de Francisco Louçã. Aliás, queria pedir desculpas antecipadas a Francisco Louçã por estar a usar a sua cabeça. Ela está aqui no papel de sinédoque – assim como quem diz Moscovo para falar da Rússia toda –, enquanto cabeça representante de numerosas cabeças de esquerda que pensam mais ou menos o mesmo do que ele. A escolha recaiu na cabeça de Louçã por dois motivos: 1) é a cabeça de esquerda que neste momento tenho mais à mão; 2) resolvi escrever esta crónica após ler o seu texto “Brasil: um golpe de Estado em transmissão directa”. São José Almeida já assinou aqui no PÚBLICO um excelente artigo sobre o tema (“Corrupção é corrupção. Ponto final. Parágrafo”), alertando para o inconcebível relativismo moral que subitamente tomou conta de boa parte da esquerda portuguesa, que resolveu transformar Lula e Dilma em desamparadas vítimas da tenebrosa justiça brasileira.

A minha Páscoa: de Babel ao Pentecostes

PAULO RANGEL Público 29/03/2016 - 07:32 A semana que passou e a que agora passa, por razões que não vêm ao caso, fizeram acudir-me à memória as minhas férias escolares, as férias de há quarenta anos. As férias da Páscoa tal como as do Natal eram sempre passadas em casa, por entre a nossa casa, a de amigos e a de vizinhos. E numas ou noutras, as da Páscoa ou as do Natal, já não sei dizer bem – o mais provável é que fosse em ambas –, havia sempre tempo para passar os olhos por um álbum que dava pelo nome de Grande Bíblia Ilustrada ou qualquer coisa aproximada. Por vezes, quando calcorreio livrarias de marca, destas muito estilizadas, de oferta colorida, digital e escassa, típicas das franquias de centro comercial, suspeito ver esse livro ou algum dos seus sucessores ou sucedâneos algures no escaparate. A verdade é que para uma criança numa família católica dos anos 70, os tempos de Páscoa e de Natal eram tempos fortes e sagrados, mais no sentido mítico e mágico de Mircea Eliade do que