Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2010

Onde as leis da natureza se embrenham na confusão

Público, 20100731 José Pacheco Pereira Na semana passada soube-se aquilo que já se sabia, que o caso Freeport acabou em nada, como os rios comidos pela areia Nos filmes de Richard Attenborough ou na série da BBC sobre o Planeta Terra, a natureza é maravilhosamente simples. O animal A procura o sítio onde há mais comida e compete com os outros para a comer. Nalguns casos, a melhor forma de competir é cooperar, e o animal A coopera com outros animais A para conseguir comer melhor, ou com animais B que partilham do comum interesse em chegar à comida com eficácia. O animal C persegue o animal A ou o animal B, porque eles são, neste caso, a comida. Cada um usa as armas que tem ou os truques que conhece, seja camuflagem, cornos, espinhas, cheiros, encostar-se a outros que são maiores e são inimigos do animal C, meter-se em buracos, etc., etc., para se defender. O animal C e D e E e F usam as suas vantagens, ou porque correm mais, ou são mais fortes, ou tecem fios pegajosos, ou envenenam, o

Cavaco, tão perto e tão longe?

Expresso, 20100731,  José Ribeiro e Castro Para a direita, o centro-direita, e o centro não capturado pela esquerda, estes meses surgiram diferentes do que se previa: um futuro sem Cavaco, ou com Cavaco cativo do eleitorado PS. Não é famoso. Se Cavaco Silva tivesse vetado a lei do casamento homossexual, a questão provavelmente não teria surgido. Mas, após 17 de Maio, tudo ficou mais incerto: não porque se apresentasse outro candidato, mas porque Cavaco Silva deslocou-se de sítio, de referência e de eleitorado. Em 2006, Cavaco ganhou à primeira volta por 35 mil votos. Não foi grande folga. E alguns inquéritos mostram duas coisas: um declínio do apelo eleitoral e a deslocação para a esquerda do seu eleitorado, tornando-o mais dependente de votos PS para uma reeleição.  Os inquéritos Aximage/Correio da Manhã ilustram-no: Cavaco vencia com 60 por cento em Janeiro, com 56 em Março, só com 53 em Junho; e o voto socialista em Cavaco fez-se indispensável, havendo mais eleitores PS a votar Cav

Constituição e a liberdade do presente e do futuro

DE, 31/07/10 00:01 | José Ribeiro e Castro  Com uma Constituição que, a caminho de 2011, afirma, no Preâmbulo, a “decisão” (sic) de “abrir caminho para uma sociedade socialista”, só podemos sorrir com a fingida indignação de José Sócrates contra a “ameaça ultraliberal” na revisão constitucional de Passos Coelho. A frase, aliás, é de gargalhada. O PS perdeu a noção das proporções. Pratica o superlativo no gargarejo , como cosmética do seu Governo negativo. Flagela todos os dias o Estado Social, mas aprecia pretextar-se seu único paladino. O PSD não foi feliz no tempo de entrada. Falhou nas propostas para o sistema político, contraditórias e desnecessárias ou negativas. E também quanto à Constituição económica e social, ao confundir planos. Mas daí até favorecer o discurso do PS vai a distância entre a esclerose do passado e a esperança de um futuro melhor. Passos Coelho tem a coragem de enfrentar o problema. O discurso do PS exibe-se entre o Neandertal e o Cro-Magnon do pensamento const

Como se continuam a destruir as escolas portuguesas

Público, 20100730 José Manuel Fernandes Os alegados defensores da escola pública são os seus maiores inimigos. Porque não respeitam alunos e famílias Estamos na última semana de Julho e há pais a receber em casa cartas a dizerem-lhes que os seus filhos vão mudar de escola. A darem-lhes - teoricamente - a oportunidade de se manifestarem contra essa mudança. E cartas que são assinadas por entidades cuja designação faz lembrar o gonçalvismo: "comissões administrativas" nomeadas para os novos mega-agrupamentos. Comissões que, formalmente, só entram em funções a 1 de Agosto - mas que já estão a assinar cartas. Isto que se está a passar um pouco por todo o país - desde as aldeias remotas do interior a concelhos das duas grandes áreas metropolitanas - não é incompetência e, muito menos, voluntarismo para "fazer andar as coisas mais depressa". Isto que se está a passar e está a desorganizar a vida de centenas, talvez milhares de escolas e de um número incalculável de fa

29 de Julho - Santa Marta

Imagem
Cristo em casa de Marta e Maria Tintoretto (1570-75) Óleo sobre tela 200x172 cm Alte Pinakothek, Munich

Políticos: a dízima a dobrar

Novas espécies identificadas no Estado social port... Frase do dia O antibiótico Vistas curtas Método socrático A política de emergência Carta de um padre Frase do dia Uma questão de educação Comemorações da República ou comemorações da Prime... A salvação do Estado social está no Estado garanti... «Urbi et Orbi»: a relevância da religião na vida p... Crise e futebol Liberalização do Aborto em Portugal, 3 anos depois... O que os olhos não vêem o coração não sente Os valores do século XXI, segundo Quino Frase do dia Frase do dia Peregrinação a pé a Fátima de Comunhão e Libertaçã... Carta-convite para a Peregrinação a pé a Fátima de... Só a ficção se controla O meu novo casamento Um fim de semana em Moscovo Os caixões com armas Golden Share Frase do dia Uniões de facto e bem comu

FÉRIAS: "Poder descansar"

*TEMPO DE FÉRIAS Poder descansar (*)* Os discípulos colocaram a Jesus o problema do stress e do descanso. Os discípulos regressavam da primeira missão, muito entusiasmados com a experiência e com os resultados obtidos. Não paravam de falar sobre os êxitos conseguidos. Com efeito, o movimento era tanto que nem tinham tempo para comer, com muitas pessoas à sua volta. Talvez esperassem ouvir algum elogio por tanto zelo apostólico. Mas Jesus, em vez disso, convida-os a um lugar deserto, para estarem a sós e descansarem um pouco. Creio que nos faz bem observar neste acontecimento a humanidade de Jesus. A sua acção não dizia só palavras de grandeza sublime, nem se afadigava ininterruptamente por atender todos os que vinham ao seu encontro. Consigo imaginar o seu rosto ao pronunciar estas palavras. Enquanto os apóstolos se esforçavam cheios de coragem e importância que até se esqueciam de comer, Jesus tira-os das nuvens. Venham descansar! Sente-se um humor silencioso, uma

Novas espécies identificadas no Estado social português

Público, 20100729 Helena Matos O jogo das influências, das cunhas e dos pedidos sempre fez parte da nossa relação com o Estado enquanto poder 1.O povo do meio "Todos os anos é a mesma coisa. Mas não me consigo habituar a tanta incompetência: 45 dias depois do fim das aulas, neste final de Julho, os alunos e as famílias não conhecem os horários do próximo ano lectivo, impedindo de atempadamente planearem transportes, tempos livres, actividades extracurriculares, enfim, planearem a sua vida. Como se tal não bastasse, a 5 dias do fim do mês, recebo carta a informar-me que o meu filho que vai iniciar o 7º ano afinal já não fica na escola onde se inscreveu. Criaram à pressa um novo agrupamento, juntaram as turmas todas desse ano noutra escola. Dizem que tenho cinco dias para me opor, mas nem sequer informam o que acontece se o fizer: fica na rua? Vai para outra escola ainda mais longe? Tá tudo maluco" - escreveu Gabriel Silva no blogue Blasfémias. Ao contrário do que escre

Frase do dia

Com facilidade desculpamos uma criança que tem medo do escuro. A verdadeira tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz Platão

O antibiótico

JOÃO CÉSAR DAS NEVES DN2010.07.26 Portugal sofre neste momento três gripes acumuladas. Daí o mal-estar, dores de cabeça, náuseas, paralisia. Em vez de remédios improvisados, era bom usar antibiótico. Todos sabemos que apanhámos a gripe grega. Os credores assustaram-se com a dívida pública excessiva e descontrolada e ameaçam perder a confiança. Embora localizada só nas fossas nasais, a constipação influencia toda a economia com subida dos juros, bloqueio financeiro, degradação da credibilidade e falta de dinamismo. Pior é que também sofremos de uma variante da gripe americana. Não apenas o Estado está endividado, mas toda a economia se deixou deslumbrar com a facilidade do crédito. Nos EUA foi o sub-prime, por cá foi a descida das taxas por causa do euro. Agora os consumidores, apertados pelos juros antigos, não têm poder de compra, como as empresas não se atrevem a investir. Isso cria febre, perda de apetite, tonturas, dores por todo o corpo. Essas duas gripes, apenas financeiras, são

Vistas curtas

Público 20100723  Luís Campos e Cunha   Assuntos importantes raramente são urgentes e raramente os assuntos urgentes são os mais importantes Defender aquilo em que acredito é um dever e um privilégio. E, devo confessar, estar contra a corrente dá-me um gosto acrescido. Infelizmente muitas vezes tenho tido esse gosto. Nada mais irrita, quando se quer discutir um assunto importante, do que o argumento que o problema é outro, para não se discutir esse. E os assuntos importantes raramente são urgentes e raramente os assuntos urgentes são os mais importantes. Naturalmente que o problema mais grave da nossa sociedade é o desemprego. Qualquer pessoa minimamente bem formada não pode deixar de pensar e agir consequentemente. O desemprego é um drama pessoal inimaginável e um problema social (e económico) que pode ser minimizado nas suas consequências pela acção do Estado. Simplesmente a sua resolução não está, fundamentalmente, nas mãos do Governo. É a prazo que o problema, de facto, se p

Método socrático

DESTAK | 21 | 07 | 2010   21.54H João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt Vivemos estranhos tempos políticos. A regra parece ser a desorientação e contradição. O Governo a cada passo corrige decididamente aquilo que fizera dias antes. A cada momento surge um ministro a contradizer com firmeza o que ele próprio afirmara. As obras públicas são para manter a todo o custo e para adiar indefinidamente, conforme o dia. Com ou sem portagens, conforme a semana. Os impostos passam de estáveis a crescentes de uma hora para a outra. As reformas decisivas na Saúde, Educação e Justiça já foram tudo e o seu contrário. Este espectáculo grotesco, que alguns atribuem à crise internacional, parece incomparável, mesmo na triste história da multissecular democracia portuguesa. Tem, no entanto, um paralelo evidente no passado: a actuação do último primeiro-ministro socialista, José Sócrates. Vale a pena lembrar que em 2005 o PS ganhou a primeira e única maioria absoluta sob a promessa so

A política de emergência

Público, 20100720 Pedro Lomba Bem sei que a cena tem sido explorada para cantigas de escárnio e mal dizer. Paulo Portas, no Parlamento, chefe de um partido com 11 por cento dos votos, a pedir à maioria do mais prepotente Governo que já tivemos que mude de primeiro-ministro para abrir caminho a uma coligação PS-PSD-CDS. Estávamos mesmo a ver que a proposta iria ser recebida com o cinismo de serviço; e estávamos mesmo a ver que PCP e Bloco de Esquerda iriam gostar dela, por se sentirem desconvidados. Já fui crítico de Paulo Portas muitas vezes. Isso não importa agora. Digo-vos porém que este apelo de Portas a que o Parlamento crie condições para uma grande coligação me pareceu tudo menos digno de riso. Podemos discordar do momento e do método como ele a apresentou. Podemos discutir as suas intenções. Mas, cálculos à parte, penso que Portas verbalizou o sentimento de muitos portugueses que estão fartos do estado de impotência e chantagem a que chegou a nossa política. O raciocínio de

Carta de um padre

A carta que se segue foi escrita pelo padre salesiano uruguaio Martín Lasarte, que trabalha em Angola, e endereçada a 6 de Abril ao jornal norte-americano The New York Times.  Nela expressa a sua perplexidade diante da onda mediática despertada pelos abusos sexuais de alguns sacerdotes a par do desinteresse que o trabalho de milhares religiosos suscita nos meios de comunicação. Eis a carta. Querido irmão e irmã jornalista: Sou um simples sacerdote católico. Sinto-me orgulhoso e feliz com a minha vocação. Há vinte anos vivo em Angola como missionário. Sinto grande dor pelo profundo mal que pessoas, que deveriam ser sinais do amor de Deus, sejam um punhal na vida de inocentes. Não há palavras que justifiquem estes atos. Não há dúvida de que a Igreja só pode estar do lado dos mais frágeis, dos mais indefesos. Portanto, todas as medidas que sejam tomadas para a proteção e prevenção da dignidade das crianças será sempre uma prioridade absoluta. Vejo em muitos meios de informação, sobret

Frase do dia

Um contemporizador é aquele que alimenta o crocodilo, na esperança de que ele o coma em último lugar Sir Winston Churchill

Uma questão de educação

DN2010-07-19 JOÃO CÉSAR DAS NEVES A senhora ministra da Educação é uma pessoa séria, respeitadora, democrática. Por isso, não tem certamente dificuldade em entender o alarme e a preocupação que alguns pais sentem perante o que o seu ministério se prepara para apresentar como educação sexual. São mesmo muitos os pais, além de professores, educadores e pessoas de boa vontade, que se inquietam, e não são fanáticos, maníacos ou desequilibrados.. A senhora ministra, cuja função é servir o País e a formação dos jovens, tem de compreender isto. Não entremos na conversa administrativa e legal com que o inistério se protege como mandam os pergaminhos. Sabemos que tudo se faz com o melhor propósito educativo e técnicas pedagógicas. Sabemos que há liberdade no uso das horas de aula e dos conteúdos, que devem ser adequados ao projecto educativo. Nós sabemos, mas nem todos sabem. Sabemos que os pais têm de ser informados de todas as actividades nesse âmbito. E sabemos que raramente o são. Até sabem

Comemorações da República ou comemorações da Primeira República?

Público, 2010-07-17 José Pacheco Pereira A sucessão de publicações, eventos, sessões, não escapam a uma ambiguidade que remete mais para uma história "oficial" Outro dia, à minha frente um eléctrico trazia pintado um dos símbolos da República, uma figura feminina com barrete frígio com um seio desnudado, uma variante, mesmo assim mais púdica, da figura de Delacroix da "liberdade guiando o povo". Um seio nu em vez de dois, certamente porque a Carris obedece aos bons costumes. Neste ano do centenário da República, actos dessa comemoração estão por todo o lado, mas toda esta sucessão de publicações, eventos, sessões, não escapam a uma ambiguidade que remete mais para uma história "oficial" do que para a história pura e simples, mais agnóstica quanto à política e à ideologia republicana. Ou dito de forma mais exacta, quanto à nossa tradição republicana jacobina e maçónica, que encontrou expressão numa parte da oposição à ditadura, quer nos sobreviventes da p

A salvação do Estado social está no Estado garantia

Público2010-07-16 José Manuel Fernandes Como os demagogos que instrumentalizam o medo, defensores do Estado providência apostam na ignorância do cidadão A ignorância é o terreno onde medra a demagogia dos políticos. E são os medos que a ignorância propícia que abrem caminho ao populismo. Ora, em tempos de crise, não há medo maior do que o de perder os poucos apoios sociais de que se dispõe. Não admira por isso que, a par com a "história de Carochinha" do neoliberalismo - esse monstro que ninguém sabe sequer definir o que é -, tenha agora surgido o papão do fim do Estado social. Nas últimas Jornadas Parlamentares do PS, sem nada para oferecer de substancial a um bando de deputados desorientados, Augusto Santos Silva e José Sócrates investiram contra a ideia do "Estado garantia". Explorando a ignorância reinante - em especial a ignorância dos jornalistas, apenas atentos ao sound byte -, o inimitável Silva chegou a dizer que a ideia de um "Estado garantia"