Pais brilhantes
Inês Teotónio Pereira , i-online 13 Out 2012
Dizem que é a obrigação dos pais: viver para os filhos. Por isso não se queixe. É assim e pronto
A paciência e a dedicação dos pais aos filhos é qualquer coisa de extraordinário. Até a pessoa mais detestável tem qualquer coisa de aproveitável como pai ou mãe. Os pais, na sua relação com os filhos, melhoram sempre pelo menos um bocadinho. Ficam melhores pessoas. É a lei da selva. No limite, somos mesmo pessoas fantásticas, generosas, atenciosas, altruístas e bondosas. A paciência com que fazemos um número incrível de tarefas ao serviço dos nossos meninos sem um queixume é sobre-humana. Ensinamos tudo aos nossos filhos, condicionamos toda a nossa vida à sua existência, estabelecemos como prioridade protegê- -los e até morremos por eles se for mesmo preciso. Ou seja, somos uma espécie de super-homens em versão doméstica.
E não há maneira de fugir a isto. Quer queiramos quer não, é a nós que eles se dirigem quando lançam o grito de apelo: “Já acabei de fazer cocó!” Somos nós, os pais, que temos o dever de lhes ensinar a limpar o rabo, a apertar os sapatos, a pôr o cinto de segurança, a falar, a vestir, a despir, a andar, a comer, a estudar e até a pensar. É uma vida nisto. São anos e anos em que a nossa prioridade são outras pessoas, outras tarefas e outros deveres que não têm nada a ver com o nosso bem-estar. Antes pelo contrário: nunca mais se dorme ou se lê um livro da mesma maneira, ou seja, de seguida.
Dizem que é esta a obrigação dos pais: viver para os filhos. Por isso não se queixe. É assim e pronto. Os pais – se quiseram ser pais – que se aguentem à bomboca: ninguém disse que era fácil. E há até quem vá mais longe e responsabilize os pais pelos erros dos filhos, fazendo jus à famosa teoria segundo a qual “metem-se a ter a filhos e depois não os sabem educar: mais vale não os terem”. Uma injustiça: nós não sabemos se somos bons ou maus pais e se os nossos filhos são asneirentos ou não antes de eles nascerem… E mesmo assim só passados uns aninhos é que as feras se revelam. Não se pode fazer um plano de negócios de filhos. Não existe folha de Excel própria para isto.
Mas nada disto é reconhecido: a verdade é que vivemos num mundo onde não há uma palavra para os pais. Onde não há lugar para um afecto, um reconhecimento, um gesto de apoio aos pais. Nada. Nós, pais, somos sistematicamente abandonados, desencorajados, julgados e sujeitos à sorte do “tipo” de filho que nos calha na rifa. Nada do resto, o esforço e a dedicação, são motivos de glória. São uma mera obrigação, como se estivéssemos a falar das funções básicas de um estado. Com a diferença de que nós, pais, ao contrário do país, não podemos falir. Não há plano de resgate que nos acuda.
Até que ficamos velhinhos. E nesse dia, em que precisamos de alguém que nos mude a fralda, que nos ajude a vestir, a despir, a falar, a ouvir, a andar, a comer, a pôr o cinto de segurança, a fazer a cama, a atar os sapatos, os filhos estão invariavelmente “a tratar da vida deles”. É assim, é a vida. Na selva também é assim.
Dizem que é a obrigação dos pais: viver para os filhos. Por isso não se queixe. É assim e pronto
A paciência e a dedicação dos pais aos filhos é qualquer coisa de extraordinário. Até a pessoa mais detestável tem qualquer coisa de aproveitável como pai ou mãe. Os pais, na sua relação com os filhos, melhoram sempre pelo menos um bocadinho. Ficam melhores pessoas. É a lei da selva. No limite, somos mesmo pessoas fantásticas, generosas, atenciosas, altruístas e bondosas. A paciência com que fazemos um número incrível de tarefas ao serviço dos nossos meninos sem um queixume é sobre-humana. Ensinamos tudo aos nossos filhos, condicionamos toda a nossa vida à sua existência, estabelecemos como prioridade protegê- -los e até morremos por eles se for mesmo preciso. Ou seja, somos uma espécie de super-homens em versão doméstica.
E não há maneira de fugir a isto. Quer queiramos quer não, é a nós que eles se dirigem quando lançam o grito de apelo: “Já acabei de fazer cocó!” Somos nós, os pais, que temos o dever de lhes ensinar a limpar o rabo, a apertar os sapatos, a pôr o cinto de segurança, a falar, a vestir, a despir, a andar, a comer, a estudar e até a pensar. É uma vida nisto. São anos e anos em que a nossa prioridade são outras pessoas, outras tarefas e outros deveres que não têm nada a ver com o nosso bem-estar. Antes pelo contrário: nunca mais se dorme ou se lê um livro da mesma maneira, ou seja, de seguida.
Dizem que é esta a obrigação dos pais: viver para os filhos. Por isso não se queixe. É assim e pronto. Os pais – se quiseram ser pais – que se aguentem à bomboca: ninguém disse que era fácil. E há até quem vá mais longe e responsabilize os pais pelos erros dos filhos, fazendo jus à famosa teoria segundo a qual “metem-se a ter a filhos e depois não os sabem educar: mais vale não os terem”. Uma injustiça: nós não sabemos se somos bons ou maus pais e se os nossos filhos são asneirentos ou não antes de eles nascerem… E mesmo assim só passados uns aninhos é que as feras se revelam. Não se pode fazer um plano de negócios de filhos. Não existe folha de Excel própria para isto.
Mas nada disto é reconhecido: a verdade é que vivemos num mundo onde não há uma palavra para os pais. Onde não há lugar para um afecto, um reconhecimento, um gesto de apoio aos pais. Nada. Nós, pais, somos sistematicamente abandonados, desencorajados, julgados e sujeitos à sorte do “tipo” de filho que nos calha na rifa. Nada do resto, o esforço e a dedicação, são motivos de glória. São uma mera obrigação, como se estivéssemos a falar das funções básicas de um estado. Com a diferença de que nós, pais, ao contrário do país, não podemos falir. Não há plano de resgate que nos acuda.
Até que ficamos velhinhos. E nesse dia, em que precisamos de alguém que nos mude a fralda, que nos ajude a vestir, a despir, a falar, a ouvir, a andar, a comer, a pôr o cinto de segurança, a fazer a cama, a atar os sapatos, os filhos estão invariavelmente “a tratar da vida deles”. É assim, é a vida. Na selva também é assim.
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