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A mostrar mensagens de janeiro, 2016

Uma experiência chamada Portugal

Alberto Gonçalves DN20160131 Se bem percebi, o alegado governo que nos caiu em cima enviou à Comissão Europeia um rascunho do Orçamento do Estado, o qual, segundo quem sabe do assunto, ganharia em ter sido produzido por dois cangurus munidos de uma "folha" de Excel. A CE, horrorizada com tamanho caldo de inépcia, trafulhice, alucinação e certificada desgraça, devolveu o papel acompanhado de uma carta que se esforça por manter a polidez protocolar embora não esconda certa falta de paciência para as artimanhas de burgessos. O dr. Costa e os serviçais do governo reagiram através da desvalorização da carta, até porque, garantiam eles, as objecções da CE prendem-se com ligeirezas técnicas e, por favor não se engasguem, "não têm relevância política". Em simultâneo, um teórico do "costismo" (o equivalente em sofisticação ao atendedor de chamadas do professor Bambo) acusou a CE de "tentar tramar o governo português". A acreditar nos socialistas,

Quem se lixa é sempre o mexilhão

Paulo Baldaia DN20160131  Quando estão no governo, as críticas são olhadas como o resultado de uma confusão entre alhos e bugalhos. Na oposição, são avisos à navegação, alertas para levar a sério. Não há paciência para o PSD e para o PS, sempre transvestidos e incapazes de fazer uma conversa séria sobre o que nos vão dizendo a Comissão Europeia, as agências de rating, a UTAO, o Conselho de Finanças Públicas... Também não há paciência para o Bloco de Esquerda, que espalha cartazes pelo país contra as soluções que foram encontradas para o Novo Banco e o Banif. Julgarão, por certo, que os seus eleitores nunca vão perceber que as medidas que eles contestam só existem porque eles apoiam o governo que as concretiza. Não há paciência igualmente para o PCP, que apoia o governo para ter ganhos na função pública e no sector empresarial do Estado, com destaque para os transportes, mas que a cada conquista põe os sindicatos da CGTP a ameaçar com uma nova greve para ganhar mais um pouco d

E o esbulho continua

Vital Moreira, Causa Nossa, 2016.01.31 Há algumas semanas contestei   aqueles que ingenuamente pensaram que a reversão da concessão dos transportes públicos de Lisboa e do Porto não ia custar nada ao Estado . E mais recentemente vim protestar   contra a responsabilidade do Estado por esses transportes , defendendo a sua passagem para a responsabilidade municipal ou intermunicipal. Fica agora a saber-se, pelo esboço de orçamento para 2016, que só  a Carris de Lisboa e os STCP vão custar ao orçamento do Estado mais 223 milhões de euros ! Ou seja, os contribuintes de todo o país vão continuar a suportar os défices dos transportes coletivos de Lisboa e do Porto. E ninguém protesta contra este escândalo? Nenhum dos municípios que pagam os sues próprios transportes coletivos se rebela contra este  esbulho nacional em benefício de Lisboa e ao Porto !? Os transportes coletivos de Lisboa e do Porto hão-de continuar a hipotecar o equilíbrio do orçamento do Estado?

Já perceberam ou querem que faça um desenho?

Helena Matos Observador | 31/1/2016 O problema não é Catarina Martins dizer que o Presidente da República terá de promulgar "quer queira, quer não”. O problema é à esquerda e à direita aceitar-se essa alarvidade como um direito natural. Argumentar. Contra-argumentar. Nada disso interessa. E nem sequer é útil. O que temos de fazer é estudar afincadamente a Revolução Francesa. Caso contrário isto acaba mal. O governo de esquerda, mais o bater do pé a Bruxelas sem esquecer os arrebatamentos patrióticos com a soberania… tudo isto nos conduz ao mesmo paradoxo: nada do que nos está a acontecer é racional ou sequer ideológico. O nosso problema é o iluminismo jacobino, esse período/modo de ser em que umas criaturas se achavam melhores que as outras e como tal se entendiam não só predestinadas para mandar como não aceitavam quaisquer limites à sua vontade. Baseados nessa convicção, eles que se achavam iluminados, fecharam os olhos à loucura que em seu nome se instituía. Primei

Hino à Caridade

Irmãos: Aspirai com ardor aos dons espirituais mais elevados. Vou mostrar-vos um caminho de perfeição que ultrapassa tudo. Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos. se não tiver Caridade, sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu possua a plenitude da fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Ainda que distribua todos os meus bens aos famintos e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita. A Caridade é paciente, a Caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O dom da profecia acabará, o dom das línguas há-de cessar, a ciência desaparecerá; mas a Caridade não acab

Voltemos ao fado

Miguel Sousa Tavares, Expresso, 20160130 Na manhã seguinte a ter sido eleito, Marcelo Rebelo de Sousa revelou já ter 1800 SMS de felicitações no seu telemóvel. Isso significa que há, pelo menos, 1800 felizardos que tinham o número de telefone privado do candidato. Eu julgo que não haverá nem 180 que tenham o meu e, se houvesse, ficaria preocupado: corria o risco de me confundirem com o Miguel Relvas ou de me tomarem por candidato à Junta de Freguesia. Mas não tiremos o mérito a Marcelo: foi das mais brilhantes, inteligentes e minuciosas campanhas para se fazer eleito a que já assisti. É claro que tudo seria diferente se Guterres tem ido a jogo, mas Marcelo não é responsável por quem não estava e limitou-se a tratar dos que estavam ou queriam estar, com uma subtileza e frieza de cálculo de verdadeiro mestre de xadrez. E os termos em que o fez garantem-lhe uma independência futura e uma liberdade de actuação de que nenhum Presidente antes dele beneficiou. Esse é o seu principal tru

Family Day em Roma: Uma multidão contra as "uniões gay"

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senza pagare , 20160131 O Circo Máximo, em Roma, encheu-se para uma mega-manifestação contra as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, que estão prestes a ser aprovadas em Itália. O projecto de lei inclui também a co-adopção para pessoas do mesmo sexo.  Ouviram-se algumas intervenções a favor da família natural, fundada num casamento entre homem e mulher. Alguns peritos alertaram também para os perigos das "barrigas de aluguer", que poderão igualmente ser legalizadas em Itália. Tudo decorreu em clima de alegria, embora se perceba que a situação é grave e que os países europeus caminham a passos largos para o abismo em questões de moral sexual. 

O regresso da ansiedade

MANUEL CARVALHO Público 31/01/2016 Anda no ar um indisfarçável desejo de que a Comissão Europeia, os mercados ou qualquer outro arauto da justiça universal punam o Governo pelos seus desmandos em matéria orçamental. No meio de tanto entusiasmo com a aflição de António Costa, com o buraco na credibilidade de Mário Centeno e com a desgraça da perda da credibilidade externa do país, confundem-se cartas protocolares com vergastadas públicas, metem-se no mesmo saco documentos preliminares e propostas finais e dá-se largas ao festim que já conseguiu retirar ao Governo o tradicional estado de graça dos primeiros cem dias. Porquê? Principalmente porque o Governo e o seu primeiro-ministro tudo fizeram para montar a armadilha em que agora se encontram. Foram eles quem escreveu o guião que determina as regras do seu julgamento, ao tentarem o equilíbrio improvável entre o fim da austeridade e o cumprimento das regras europeias. O nervosismo, o exagero e por vezes até a manipulação dos facto

As Estrelas na Ribeira Grande

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José Maria André | Correio dos Açores, Verdadeiro Olhar, ABC Portuguese Canadian Newspaper, Spe Deus, 31-I-2016 As Estrelas na Ribeira Grande são um fenómeno muito antigo de piedade popular, recuperado há 20 anos. Ultimamente, já se festeja noutras cidades à volta e certamente se vai estender ao resto do país, à medida que se conhecer, porque agora é barato viajar aos Açores. Há boas razões para gostar das estrelas, porque a poesia é a linguagem dos enamorados. Nossa Senhora da Estrela remonta à procissão das velas com que os primeiros cristãos comemoravam a apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém. Esta procissão já aparece no diário da peregrinação de Egéria à Terra Santa, por volta do ano 380. Nos Açores, em particular na Ribeira Grande, adquiriu um ambiente especial, com a música à desgarrada, a Missa antes de o sol nascer, a procissão da alvorada, a confraternização de toda a cidade à mesma mesa. Se há coisa que entusiasme o Papa Francisco é a chamada piedade popular.

Três funerais e uma praga

P. Gonçalo Portocarrero de Almada | Observador 2016.01.30 Será que a basílica da Estrela se converteu, por artes mágicas do laicismo triunfante, num espaço neutro e arreligioso, à disposição dos próceres da República, seja qual for a sua filiação religiosa? O título sugere uma comédia norte-americana, mas traduz uma realidade bem portuguesa. Algo funesta, por sinal, mas muito actual, a julgar por certos acontecimentos recentes. O primeiro a referir é o falecimento de António de Almeida Santos, no passado dia 18 de Janeiro. O ilustre finado, como a imprensa fez questão de sublinhar, não quis ter exéquias religiosas, em coerência aliás com a sua condição de maçon filiado no Grande Oriente Lusitano (Expresso, 22-1-2016, p. 16). No entanto, o seu corpo esteve em câmara ardente numa capela da basílica da Estrela, de onde partiu para o cemitério, depois de uma breve passagem pela Assembleia da República e pela sede do Partido Socialista, onde foi homenageado pelos seus pares do pa

O agricultor

«O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra.  Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como.  A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga.  E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita» Mc 4, 26-28

Presidenciais: dois balanços

Manuel Villaverde Cabral Observador | 2016.01.29 Uma falsa impressão criada pelos media foi a de um retumbante êxito da candidata do Bloco com quase 470.000 votos, quando na verdade o melhor resultado do BE remonta a 2009 com quase 590.000 votos. É altura de fazer um duplo balanço das eleições presidenciais: um quantitativo e outro qualitativo. Comecemos por pôr as contas em dia e dissipar algumas precipitações. O primeiro facto é a abstenção que bateu todos os recordes. Recordo ter previsto que esta não ficaria abaixo dos 50% e assim foi. Dada a incerteza que paira sobre o número real de eleitores por causa da incompetência mal-intencionada da oligarquia que nos governa, o melhor é esquecer as percentagens e falar do número de votantes. Ora, tirando a reeleição do presidente da República em 2011, bem como eleições secundárias como as europeias, há dez anos (Cavaco Silva, 2006) que não tinha havido tão poucos votantes como no domingo passado: cerca de 4,7 milhões. Dos outr

As desgraças do PCP

VASCO PULIDO VALENTE Público 29/01/2016 A agonia do comunismo irá com certeza produzir uma guerra na esquerda, que pode levar o regime à ruína. O prestígio do Partido Comunista Português começou a diminuir depois da guerra, com as purgas de Estaline aos judeus da Rússia e aos “desviacionistas” da Hungria a da Checoslováquia. Sem a ameaça de Hitler, as barbaridades do Generalíssimo já não eram engolidas com a mesma credulidade. O PCP não percebeu isto e nem sequer seriamente notou como estava a ser tratado pelos seus próprios “simpatizantes”, que desprezavam a orientação dos funcionários e lhes chamavam batatulinas (1) . Claro que o “Partido” (só havia aquele) ainda exercia uma considerável influência sobre a vida cultural do país (pelo que ela valia) e pouco a pouco ia infiltrando e dominando o movimento estudantil. Mas já Cunhal tinha de protestar contra os movimentos “pequeno-burgueses” de “fachada socialista”, que apareciam na Universidade e um pouco fora dela. O “25 de Abr

Serviços públicos e desigualdade social

Luís Cabral, RR online 29 Jan, 2016 Os serviços públicos não são gratuitos, são pagos pelos contribuintes que pensam que eles são gratuitos. Numa das cartas do seu diário de campanha, António Costa escrevia que "defendemos serviços públicos eficientes e de qualidade, que diminuam as desigualdades e reforcem a solidariedade entre os portugueses". Duvido que haja quem discorde de cada uma das partes da frase de Costa, que parafraseio da seguinte forma: (1) Os serviços públicos devem ser eficientes e de qualidade; (2) É importante diminuir as desigualdades e reforçar a solidariedade entre os portugueses. O ponto de discórdia é relacionado mas diferente: será (1) a melhor forma de chegar a (2)? Por outras palavras, será a oferta de serviços públicos (pagos pelo contribuinte) a melhor forma de combater a desigualdade? Uma das minhas "cruzadas" políticas é chamar a atenção para o fenómeno da ilusão fiscal. Os serviços públicos gratuitos parecem uma ideia óp

Veto do Presidente da República: Algumas Notas.

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José Maria Seabra Duque | Nós os poucos | 2016.01.29 1 - Antes de mais: esteve muito bem o Presidente da República. Como já tinha avisado, depois das eleições legislativas, continua a deter todos os poderes do cargo, excepto o de dissolver a Assembleia da República, e decidiu que devia usá-los.  Ao vetar a revogação da Lei de Apoio à Maternidade e Paternidade assim como a Lei da Adopção por Pessoas do Mesmo Sexo, o Presidente dignificou o seu cargo. Um Presidente não tem mais ou menos poderes conforme a constituição da Assembleia da República. Os seus poderes são os que estão consagrados na Constituição e que lhe são concedidos pela sua eleição por sufrágio universal. Se é verdade que muitas vezes me desiludiu, a verdade é que no final do seu último mandato Cavaco Silva demonstrou um enorme sentido de Estado. Vale a pena ler as notas da presidência, onde está explicada a decisão do Professor Cavaco Silva. Fica claro que, ao contrário da esquerda, o Presid