Indignação
DESTAK |17 | 10 | 2012 20.58H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@ucp.pt
As pessoas indignam-se quando vêem sofrimento injusto. Alguém só se exaspera ao considerar injustificado o mal que sente. A indignação é dor, mas dor com incompreensão. Daí resulta irrita-ção que se considera legítima, e normalmente é.
O problema é que, por justificada que seja, a revolta tende a cegar. Ofendida e zangada, a pessoa perde condições para uma análise serena da situação. No entanto, essa cegueira não impede, antes potencia, juízos e condenações. Os quais, resultando de uma indignação justa, parecem igualmente sê-lo, embora raramente estejam em condições de o ser. Apesar disso são taxativos precisamente por serem indignados. Argumentar contra eles embate de frente com a justificação da ofensa original, a qual é indiscutível. A dedução é que não.
Tanto mais cegas quanto mais justificadas no seu legítimo repúdio, pessoas tranquilas e inteligentes são levadas a comportamentos desesperados pela indignação. Assim ela é mesmo a mãe dos disparates.
Do nazismo ao terrorismo, dos protestos sociais às zangas de adolescente, múltiplas situações de conflito incluem o tema comum da indignação, normalmente muito razoável. Isso leva pessoas a fazer o que elas mesmas, uma vez serenadas, consideram inaceitável. Daqui sai outro teorema: este tempo de crise e dificuldade gera muito disparate.
Comentários