O presidente da junta (golpista)

Alberto Gonçalves | DN 2015.10.18

Desconfio que, em 1975, Soares combateu a extrema-esquerda menos por convicção ideológica do que pela necessidade de "definir" o PS de acordo com a vontade da maioria dos portugueses. Sei que, em 2015, o Dr. Costa procura a extrema-esquerda por falta de alternativas que não incluam o linchamento imediato. No fundo, ambos se moveram e movem por interesses privativos: a diferença é que o egoísmo do primeiro beneficiava da consolidação de um partido democrático e, naqueles anos de chumbo, isso beneficiou o país. Por infelicidade de circunstâncias, o egoísmo do segundo condena o partido e, caso o chumbo regresse, desgraça o país.
O Dr. Costa, parco em escrúpulos, possui os três neurónios suficientes para perceber que só o cargo de primeiro-ministro e a distribuição de poder pelos esfaimados do PS o resgatariam de um fracasso vergonhoso. Como a vergonha não é o seu forte, avançou sem modos pelo único caminho disponível. Com a desastrada - e desastrosa - ajuda do Dr. Cavaco, enfiou na cabecinha que o remédio para uma derrota límpida é uma vitória suja. Perdidas as urnas por incompetência épica, restava o golpe baixo. E nem sequer habilidoso: as declarações de terça-feira, à saída da "reunião" com a coligação, voltaram a exibir o descaramento rude do espécime, que chegou ao ponto de nem fingir ter lido as propostas de PSD e CDS. As propostas, estas ou outras, são de qualquer maneira inúteis, já que o Dr. Costa apenas admite uma solitária hipótese: ser primeiro-ministro, dê por onde der.
Nada de novo. O currículo do Dr. Costa, ao que consta desde as associações de estudantes (não, o prodígio nunca teve vida), é, perguntem a Seguro e a Sócrates, um inventário de facadinhas e traições. Hoje, por carência de saídas profissionais (a obsessão com a educação de adultos não é aleatória), anda por aí a abrir caminho à catanada, defendendo a promoção para assegurar o emprego. Nos intervalos dos encontros "técnicos", dialoga com embaixadores e dá entrevistas ao "estrangeiro", proeza notável em quem fala um português precioso. No auge das alucinações, arrisca umas referências inacreditáveis ao Muro de Berlim. A pergunta que atravessou a campanha mantém-se: será que ele inventa estas coisas sozinho ou há alguém que lhe quer muito mal? Se Cavaco não lhe prestar atenção, sairá directamente do trémulo PS para uma roupinha de Napoleão. Se Cavaco repetir a imprudência do "consenso", o Dr. Costa mandará provisoriamente em nós, por sorte acompanhado de terceiro-mundistas e perante o pasmo da Europa.
Em suma, o homem quer entrar na história. Num país civilizado, já fez mais que o suficiente para acabar no tribunal.
Sábado, 17 de Outubro
Chamo-me Alberto e sou anticomunista primário
Consta que o MRPP suspendeu Garcia Pereira por "incompetência e anticomunismo primário". A primeira acusação, feita a quem não cumpriu a promessa de matar os "traidores", não surpreende. A segunda parece uma tentativa tardia de conferir ao homem a respeitabilidade de que jamais dispôs: há poucos elogios tão lindos quanto o insulto de "anticomunista". E se for "primário" ainda melhor.
Tenho a sorte de receber o epíteto com frequência, dádiva que me consola o ego e coloca uma dúvida: existirão anticomunistas sofisticados? Uma volta pela maioria de sábios que opina nos media leva-me a concluir que não. De acordo com a "inteligência" pátria, que me faz corar de vaidade, abominar o comunismo é coisa de boçais, de trogloditas encalhados em 1975, de ultramontanos (!) que acreditam que os comunistas comem criancinhas ao pequeno-almoço.
Apesar do meu primarismo, só por acaso nunca engoli semelhante lenda. No que acredito é que os comunistas já perseguiram, "sanearam" e destruíram as vidas públicas e privadas dos pais das criancinhas. E que conseguem arruinar a economia de um país mais depressa do que uma visita do Dr. Soares a Ricardo Salgado. E que vêem na democracia representativa um obstáculo à felicidade experimentada nas democracias realmente populares, de Cuba à Coreia do Norte. Primário, estou convicto de que o comunismo recorre ao estratagema reles de fomentar a miséria alheia para proveito próprio. E ignoro se regressaremos a 1975, mas sei que os comunistas não saíram de lá. Como não tenho vergonha de ser anticomunista, tenho vergonha de um governo em que participem comunistas. Eleitores de segunda? São os que votam ao domingo e descobrem no dia seguinte a intentona que lhes anula o voto. Diversos "constitucionalistas" e o meu vizinho alcoólico garantem não haver problema.
É que porque não há. Aliás, para a próxima, e a benefício do Processo Retardatário em Curso, vamos alargar o "arco da governação" ao PNR? Ódio à liberdade? Confere. Aversão à Europa e ao euro e à NATO e ao Ocidente? Confere. Repulsa pelo capitalismo? Confere. Porrada nos homossexuais? Confere. E à última hora hão-de fingir converter-se ao parlamentarismo "burguês". Claro que também reconheço as diferenças entre os patriotas de extrema-esquerda e os patriotas de extrema- -direita: até ver, o PNR não colaborou em golpes de Estado.

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