António Costa pensa que é o único chico-esperto da aldeia

José António Lima
Sol, 20151019

António  Costa  quer  convencer-nos  de que operou o milagre da conversão dos marxistas, PCP e BE, à União Económica e Monetária, ao Tratado Orçamental europeu e à fixação do défice abaixo dos 3%.
Mas deixemo-nos de fantasias e de truques de política circense, em que Costa tem sido pródigo nestes dias: se aceitar a nato e o euro são cedências fáceis e óbvias para o BE e o PCP (não são questões que sonhassem resolver a curto ou médio prazo), já a conversa é outra no que respeita à improvável aprovação de um Orçamento feito pelo PS.
O PS não terá o apoio da esquerda radical para passar um OE que respeite o défice abaixo dos 3% e, para isso, mantenha contenção nos cortes dos salários e pensões e seja cauteloso na redução de impostos. O que o PCP e o BE exigem a Costa é precisamente o oposto: o aumento das despesas públicas e do endividamento em nome do fim da austeridade. 
Nesta encenação burlesca que António Costa tem levado à cena desde a noite eleitoral, torna-se chocante a falta de seriedade, a má-fé negocial e o tom chocarreiro que o PS levou para as reuniões interpartidárias. Falar da «grande utilidade e produtividade» da reunião com os Verdes, inócuo apêndice do PCP, ou do «documento muito sólido» que lhe entregou o PAN, enquanto menospreza as propostas da coligação PSD/CDS e se dá ao luxo de lhes apontar «17 ou 18 exemplos de lacunas graves», como a ausência da «prioridade à educação de adultos» ou «o combate à pobreza infantil», mostra que Costa só pode estar a gozar connosco. E revela bem a qualidade do seu caráter.
Em círculos próximos de Costa há quem acredite que o Presidente da República não irá indigitar um Governo liderado pelo vencedor das legislativas, Passos Coelho, assim poupando o líder do PS ao ónus político de ter que o derrubar no Parlamento.
E o próprio Costa admitirá que um Governo por si liderado pode ver passar o seu Programa na AR com o voto do BE e do PCP e,   depois,  ver  aprovado  o  seu  Orçamento  com  a resignada abstenção do PSD e do CDS.
António Costa deve pensar que é o único chico-esperto da aldeia. E que está rodeado de palermas. Que seríamos todos nós, claro.

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