A dessincronização

Público 2012-03-11 Miguel Esteves Cardoso

Dizem que hoje vai haver sol todo o dia, tal como na sexta-feira, mas com mais calor ainda. Aleluia: 23 graus já fazem transpirar uma criatura de Deus, com ou sem camisolinha. Na quinta, um vendedor de gelados, metafisicamente optimista, anunciava que "para o fim-de-semana dão 30 graus!".

Estes que "dão" são sempre generosos. Tal como os que "dizem" são sempre inteligentes, arriscando-se a prever o futuro, que é empresa ingrata.

Os rumores da Primavera tornaram-se ensurdecedores. É mais o mistério do Inverno desaparecido. Já deve haver espargos novos no Alentejo. E um dia destes, não muito longínquo, havemos de surpreendermo-nos a matar a sede com nêsperas. Agora há a mania da água, de que também sofro, mas dantes, quando o juízo era outro, quando uma pessoa se queixava de ter sede, o conselho dos espertos era "come uma laranja" ou outra fruta qualquer. Nada mata a sede como umas cerejas ou uma fatia de melão.

Os portugueses têm sempre a saudade do futuro, usando mal as palavras de Mário de Sá-Carneiro. Como já comemos este ano muitas más cerejas do Chile e alguns maus morangos de Huelva e do Algarve (infelizmente sucumbimos facilmente ao contrabando frutífero), as saudades reais que temos são dos pêssegos do Verão.

Estamos tragicamente adiantados e este sol que está só incita a nossa traição.

Continuando assim as coisas, prevejo saudades do Outono lá para meados de Junho, antes até do Verão propriamente dito começar. E daí?

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