Catolicismo e Ortodoxia

No Domingo passado comentei a Declaração conjunta do Papa Francisco com o Patria... deste modo:
Desde o Grande Cisma do Oriente em 1054 que o Papa, Bispo de Roma e o Patriarca de Constantinopla não se encontravam. Verdadeiramente um passo histórico.
Amigo atento chamou-me a atenção para a incorrecção histórica.
Não obstante ser um acontecimento histórico não é verdade que se quebram mil anos (ou quase) de desencontros entre o Papa e o Patriarca de Constantinopla e ainda menos entre o Catolicismo e a Ortodoxia. A vantagem dos erros, de que deste peço desculpa, é que nos dão oportunidade de os corrigir e, para os corrigir, ficarmos a saber mais.
Quais são então os factos:
  • O Patriarca de Constantinopla actual é sucessor apostólico de Miguel Cerulário, um dos protagonistas dos acontecimentos que deram origem à excomunhão mútua das igreja latina e Bizantina.
  • A 4 de janeiro de 1964, o papa Paulo VI encontrou-se em Jerusalém com o Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Patriarca Atenágoras. Ambos retiraram as excomunhões mútuas de 1054 e iniciaram um processo de aproximação que deu origem a esta declaração conjunta em 1965. Esta declaração, porém, não foi aceite por todos os bispos da Igreja Ortodoxa.
  • A Igreja Ortodoxa é uma comunhão de igrejas autocéfalas, herdeiras da cristandade do império bizantino que, tendo deixado de reconhecer a primazia de Roma com o cisma de 1054, atribuem um primado de honra ao Patriarca Ecuménico de Constantinopla. O Patriarca actual é Bartolomeu I e a sua sede é a Catedral de S. Jorge em Istambul, Turquia.
  • Ao tempo do cisma, a Igreja Bizantina reunia quatro Patriarcados antigos (Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém) e mais dois Patriarcados júniores (Bulgária e Geórgia).
  • O Papa Francisco encontrou-se em Cuba com o Patriarca Kiril, Patriarca de Moscovo.
  • A Rússia foi cristianizada na década de 860 dC. S. Cirilo e S. Metódio, co-patronos da Europa cuja festa se celebra a 14 de Fevereiro, foram decisivos na adaptação da fé à cultura eslava, tendo traduzido a Bíblia para o eslavo eclesiástico o que muito facilitou a conversão dos eslavos. Embora a sua área de missão coincidisse com a Grande Morávia (actualmente República Checa, Eslováquia, Hungria) e mais tarde com o Império Búlgaro (Bulgária e parte da Ucrânia) a sua acção influenciou todo o mundo eslavo.
  • No século X, o primeiro metropolita de Kiev, Miguel I é escolhido pelo Patriarca de Constantinopla. A sede da arquidiocese muda sucessivamente para Vladimir e depois para Moscovo em 1325.
  • Só em 1589 é que Constantinopla reconhece o metropolita de Moscovo como Patriarca. O Patriarcado de Moscovo junta-se assim ao conjunto de Patriarcados júniores que no séc. XIV tinha já sido aumentado com o Patriarcado da Sérvia.
Conclusão:
Não obstante a enorme importância e significado histórico do encontro do Papa Francisco com o Patriarca Kiril, é um erro grosseiro dizer que “desde 1054 o Papa e o Patriarca de Constantinopla não se encontravam”. 
Esse encontro aconteceu em 1964, em Jerusalém.
Outro ponto que torna as coisas mais complexas é que, enquanto há um chefe da Igreja Católica, não se pode dizer o mesmo da Igreja Ortodoxa. O Patriarca de Constantinopla tem um Primado cerimonial que não corresponde à sua influência, de facto, como provam as dificuldades na adesão à decoração de 1965.
O Patriarcado de Moscovo tem uma história mais recente, (550 anos) mas uma influência “de facto” mais significativa, dado representar cerca de 100 000 000 de fiéis na Rússia).

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