Serviço publico de televisao, Joao Miranda, DN 080726

SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO


João Miranda
investigador em biotecnologia
jmirandadn@gmail.com

A RTP comprou os direitos de transmissão em canal aberto dos jogos da Liga de futebol. A Administração da RTP, seguindo a lógica das televisões privadas, decidiu dar aos seus telespectadores o entretenimento que eles querem ver. Ao fazê-lo, reconheceu a falência do conceito de "serviço público" de televisão. A RTP foi atrás das audiências, sem as quais não tem como justificar a sua existência, porque percebeu que os programas considerados de "serviço público" (as artes, os documentários, o teatro e o cinema de autor) não atraem público.

Numa sociedade livre, o conceito de "serviço público" de televisão perde qualquer sentido. As pessoas são livres de escolher. Os programadores da televisão pública são forçados a optar entre uma programação de "serviço público", que a maior parte do público não quer ver, e uma programação vulgar que as empresas privadas já emitem. Mas o problema é ainda mais profundo. Numa sociedade livre, não existe ninguém que possa falar em nome da comunidade. Cada membro da sociedade tem direito a exprimir livremente as suas próprias ideias e a defender os seus próprios interesses. Os programas de televisão são serviços prestados aos interesses de quem os vê. Não há razão nenhuma para que todos paguem aquilo que apenas interessa a alguns.

A televisão pública é uma imposição política de uma parte da sociedade. Tende a ser defendida por aqueles que são a favor da predominância do Estado e das elites sobre a sociedade. Este facto coloca a RTP num conflito de interesses. A RTP tem obrigação de tratar a discussão pública de forma imparcial, mas tem o interesse em promover as ideias que justificam a sua própria existência. A RTP resolve esse conflito a seu favor. Faz uma defesa intransigente do serviço público de televisão nos seus programas. Mas, mais importante, defende as ideias culturais e políticas que a favorecem. A RTP adopta o discurso cultural das elites e transmite ao espectador uma visão benigna do Estado enquanto instituição dirigente da sociedade.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

OS JOVENS DE HOJE segundo Sócrates

Hino da Padroeira

O passeio de Santo António