O Milagre das Notas

Expresso, 080712
Fátima Barros

O Ministério da Educação melhora as estatísticas e passa o problema para as Universidades.

Milagres há poucos e desde o milagre das rosas que não víamos nada assim: o país que ainda há dois anos apresentava estatísticas miseráveis nas notas do exame nacional de 12º ano de Matemática A, consegue uma recuperação fantástica e aumenta a média nacional de 7,3 para 12,5 valores. As taxas de reprovação passaram de 29% em 2006 para apenas 7% em 2008.
Não há dúvidas que este Governo consegue milagres na educação. Se até ao passado a tendência era para que as notas obtidas no exame nacional de Matemática fossem mais baixas do que as do ensino secundário (salvo algumas honrosas excepções), actualmente verifica-se o contrário: os alunos conseguem aumentar significativamente as notas no exame nacional. Srª ministra, aqui há alguma coisa que não está a bater certo!
Acredito que alunos e professores se tenham esforçado muito, mas no passado isso também acontecia. O que é que é diferente? É que o facilitismo dos exames do 12º ano, reconhecido maciçamente por alunos e professores, conduziu à subida generalizada das notas. Ou seja, é como se tivéssemos atribuído um bónus a cada aluno. Como as notas param em 20 valores, todos beneficiaram, com excepção dos alunos muito bons. Alunos que se esforçaram menos ao longo do ano conseguem obter resultados semelhantes aos dos alunos que trabalharam arduamente. E estes últimos sentem-se defraudados.
O exame nacional de matemática era uma prova de grande credibilidade, reconhecida como a bitola da excelência, mas perdeu o seu valor enquanto medida de selecção dos alunos. A subida das notas contribui para a inflação das notas de acesso à Universidade sem que haja o correspondente aumento de qualidade dos alunos. E os resultados estão à vista! Na Universidade os alunos não conseguem resultados razoáveis, pois o nível de conhecimentos é desajustado da sua nota de admissão. O Ministério da Educação melhora as estatísticas e passa o problema para as Universidades. Serão estas que terão que lidar com o insucesso dos alunos que o exame de 12º ano deixou de filtrar.
No futuro, será inevitável que as melhores Universidades se associem para, em conjunto, estabelecerem mecanismos alternativos de selecção dos seus alunos.

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