A beleza da vida...

Sofia Guedes, 2014.10.19

Passaram duas semanas sobre a Caminhada pela Vida, o que nela foi proposto e 30 anos sobre a primeira vez que se legalizou o aborto em Portugal. Foi em 1984 que se abriu, escancarou a porta à cultura de morte sem que ninguém estivesse preparado para se defender. Foi como que uma invasão de gás anestesiante que limpou a consciência humana. Um inimigo camuflado, mas muito claro no seu propósito, destruir a humanidade!
Mas mais do que falar do horror que tem sido esta guerra, com milhares e milhares de vitimas, quero exprimir um sentimento muito profundo e verdadeiro, que passa também pela razão e que descreve a beleza da vida.
Estou envolvida neste combate desde 1997, e embora tenha chegado atrasada, comecei cheia de certeza de que este é o meu combate. E desde esse tempo que sempre me impressionou, evitar-se falar destas formas legais de se matar uma vida caso se detetasse alguma má formação (entre as outras possibilidades, lei 6/84)). Lembro-me dum encontro de esclarecimento em casa de uma amiga, em 1998, cujo filho tinha uma grande deficiência, mas que apesar de ainda jovem quis assistir ao debate, na esperança de ser mais uma voz. E que ouviu este rapaz? Que não se falava ou mexia na lei de 84, considerando que era uma lei razoável! Este rapaz ouviu!!!... E eu nunca esqueci de me ter posto no lugar dele e pensar: "será que estão a falar a sério? Eu seria uma alvo a abater!!!...Afinal onde estão os bons?"
E assim tem sido desde os referendos de 1998, 2007 e tantos e tantos encontros! Procura-se o mal menor! Ou seja diz-se que é melhor salvar alguns que nenhuns. É verdade! Mas com que critério quando estamos a falar de vidas humanas?
Avançando no tempo... há três dias, uma grande amiga minha perdeu o seu querido filho, com 27 anos. E este filho era deficiente profundo desde que nasceu. Cresceu, viveu e morreu, sem nunca pronunciar uma palavra, sem ter ido à escola, jogado à bola, escrito um poema, resolvido um problema de matemática, discutido com os irmãs, ou sequer chorado... viveu uma vida de silêncio que emanava uma paz que era visível na cara de todos, sobretudo da mãe que o tratou como Nossa Senhora tratou do seu filho na Cruz. Esta mãe é uma mulher de uma fé que move montanhas, que transmite alegria na cruz pelo privilégio que foi ter sido mãe deste tesouro... Batizou e crismou-o, sabia-o de Deus!
 Este filho, aparentemente "vazio" para a sociedade, encheu e preencheu a vida de todos os que dele cuidaram, da mãe, do pai, dos irmãos e dos médicos, dos enfermeiros, dos terapeutas, das empregadas domésticas, das amigas de casa, de tanta gente.... E ontem no dia da missa de partida, a fila de pessoas para comungarem era impressionante, não acabava! Que mistério??!! A homilia foi de uma transcendência tão elevada quanto o mistério desta vida!
Ali naquele lugar onde está Jesus, e onde celebramos a Eucaristia, podemos experimentar o que é a comunhão dos santos, o que é o mistério de cada vida. Este rapaz de 27 anos que nunca pronunciou uma palavra, nem para pedir um copo de água, estava ali a interceder por tantos e tantos... convidou todos à conversão.... foi a personalização do que Jesus afirmou tantas vezes em relação às crianças aos mais pequenos e mais frágeis, dizendo que só O alcançaríamos se fossemos como estes.....esta vida já no outro lado, mostrou a gratidão do amor da mãe e de todos... levou-nos mais longe, mais fundo e mais alto! Só tenho de agradecer a Deus, ter estado ali naquele espaço e tempo em que o Céu tocou a Terra, com tanta doçura, com tanta beleza!
E por tudo isto e muito mais fiquei ainda com mais certeza de que não há vidas que valem mais do que outras.
 Estou disposta a ser mártir como tantos cristãos por esse mundo fora que não cedem a "negócios" sobre a sua fé, tal como não quero ceder por uma vida que seja. Ser como os mártires que se recusam a dizer que acreditam em Cristo negando a sua Igreja, mas que assumem a sua Fé na totalidade. Assim eu quero ser!
Que Deus nos ajude a não vivermos de males menores, mas se for preciso morrermos pelo Bem Maior.
Sofia Guedes

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