Papa móvel

Luciano Amaral
Correio da manhã, 2013-02-15

Por detrás das declarações rotineiras de membros da Igreja Católica sobre a "coragem" do papa na sua demissão existe uma grande perplexidade. Porque o certo é que ninguém, amigo ou inimigo do papa, sabe bem o que fazer com a sua atitude.
Mas talvez ela tenha mais sentido do que parece. Todos os que acreditaram num mandato conservador não ouviram quem avisou desde o início que Ratzinger era um homem do Vaticano II, um homem da adaptação da Igreja ao mundo moderno. Tudo o que de significativo fez Bento XVI seguiu precisamente o "espírito do Vaticano II": o ecumenismo, a precedência do direito judicial secular sobre o canónico nos casos de pedofilia, a reforma do sistema financeiro do Vaticano, para o tornar transparente.
E agora, como corolário, a demissão, como se fosse um primeiro-ministro. Em tudo encontrou resistências e incompreensão. O papa está visivelmente doente. Ter-se-á sentido sem forças para continuar as reformas e terá talvez achado que assim garantiria melhor a sua continuidade. Será preciso esperar pelo seu sucessor para sabermos se o conseguiu.

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