Amar ajuda

Público, 13/02/2013

Hoje, no dia antes do dia de São Valentim, quero escrever sobre o amor nos outros dias do ano. Ontem foi um deles. Recebi uma má notícia e imediatamente a Maria João recebeu-a como se fosse ela a recebê-la.
Recebemos a má notícia e, ao recebê-la no plural, diluiu-se por muito mais do que dois. O plural de um não é dois: são muitos. Sentimo-nos como se fôssemos muitos.
Existe o espalhar o mal pelas aldeias. Mas com o amor, com o casamento de almas que, virando-se uma para a outra, se voltam, viradas, contra o mundo, o mal multiplica-se e exagera-se ao ponto dos dois apaixonados se tornarem numa multidão de revoltados que se revolta tanto como se ama.
A boa ideia - mas talvez errada - vem de Platão, das duas metades que se encontram para alcançarem a unidade de um só ser completo. Sendo assim, as almas gémeas são apenas duas metades que se completam: precisam de completar-se para se transformarem numa unidade.
Não é verdade. O amor junta duas unidades - a Maria João e eu, por exemplo - e faz com que tenham muito mais do que a força de uma só pessoa. Não somos metades. Somos pessoas, cada uma. E quando nos juntamos, porque nos amamos, somos muito mais do que duas pessoas (e, muito menos, uma). O amor entre duas pessoas multiplica-as. Os amantes tornam-se numa multidão. O meu amor, a Maria João, salva-me das minhas desgraças por torná-las, por amor, desgraças dela.
Não há um meio-caminho. A vida torna-se no que o amor junta.

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