Os pais não sabem ser pais
Inês Teotónio Pereira , i-online 16 Fev 2013
É uma tristeza. Os pais bem querem, esforçam-se imenso, lêem livros sobre o assunto, treinam, imitam os outros, ouvem os conselhos dos avós, dos primos e dos amigos, mas são absolutamente incapazes de desempenhar a sua função. É mais forte do que eles. Perante um filho, os pais são tendencialmente aselhas, trapalhões, ansiosos, desleixados, nervosos, inseguros, tontos, mesmo. E não há ciência que resolva este drama. Os pais podem ser bons tios, bons educadores, bons professores, bons filhos, bons avós, etc. Mas bons pais, nunca. Por mais cursos que existam e por mais livros que os desgraçados dos pediatras e dos psicólogos escrevam, é impossível capacitar os pais a serem pais. Não dá. É assim como o jeito para o desenho ou para a música; quem não tem não tem qualquer hipótese de ser bom arquitecto ou bom violoncelista. Dizem que esta deficiência só acontece com o primeiro filho. Mas essa percepção é apenas mais um mito para consolar e desculpar os pais, pois não é verdade. No primeiro filho a incompetência dos pais é apenas mais visível – os desgraçados dos primogénitos são de facto uma espécie de vítimas de guerra, mas a verdade é que com os restantes filhos os pais são igualmente maus pais. Não aprendem nada. A diferença é que estão mais à vontade com a sua incompetência. Por isso e só por isso é que parecem melhores. Melhoram o marketing, mas o produto continua intragável.
Os pais não sabem o que fazer perante um filho doente, não sabem dar ordens coerentes, não sabem brincar a sério, não sabem dar explicações aos filhos. No fundo, não vêem um palmo à frente do nariz quando o assunto são os filhos. Se a criança se magoa a andar de bicicleta, não anda de bicicleta, se não aprende, a professora é má, se está doente na creche, muda de creche, se não quer comer sopa, come cereais, se tosse, vai às urgência visitar as bactérias, se gosta de calças rasgadas, cortam-se as calças, se gosta de telemóveis, pode estragar o tablet do pai, etc. Os pais perdem a razão, o raciocínio, a postura, o bom senso, a inteligência e toda a sensibilidade na sua relação com os filhos. Qualquer filho é mais bem educado por lobos ou por macacos do que por pais.
Eu acho que os pais estão próximos de mais dos filhos para conseguirem ser bons pais. Não se distanciam, não pensam. Os pais sabem dar beijinhos, sabem dar abraços, muitos mimos e exibir os filhos aos amigos. Não sabem fazer mais nada. Por isso deviam deixar todo o resto a outras pessoas, a qualquer pessoa menos a eles. Os pais deviam passar os dias a bajular os filhos e a dizer que eles são as melhores crianças do mundo. De resto, deviam sempre chamar alguém competente para exercer a função de pais conforme a situação.
Existe um programa de televisão em que um tratador ensina os donos a lidarem com os cães. A coisa resulta. O senhor vai a casa do cão, passa lá umas horas, ensina-lhe uns truques, ensina outros truques aos donos e eles passam a entender-se. Ora outra solução para este problema dos pais seria produzir um programa igual a este com o objectivo de ensinar os pais a lidarem os filhos. Se o método resulta com os cães também deve resultar com os filhos. Porque os donos são normalmente os mesmos: os pais.
Os pais não sabem o que fazer perante um filho doente, não sabem dar ordens coerentes, não sabem brincar a sério, não sabem dar explicações
É uma tristeza. Os pais bem querem, esforçam-se imenso, lêem livros sobre o assunto, treinam, imitam os outros, ouvem os conselhos dos avós, dos primos e dos amigos, mas são absolutamente incapazes de desempenhar a sua função. É mais forte do que eles. Perante um filho, os pais são tendencialmente aselhas, trapalhões, ansiosos, desleixados, nervosos, inseguros, tontos, mesmo. E não há ciência que resolva este drama. Os pais podem ser bons tios, bons educadores, bons professores, bons filhos, bons avós, etc. Mas bons pais, nunca. Por mais cursos que existam e por mais livros que os desgraçados dos pediatras e dos psicólogos escrevam, é impossível capacitar os pais a serem pais. Não dá. É assim como o jeito para o desenho ou para a música; quem não tem não tem qualquer hipótese de ser bom arquitecto ou bom violoncelista. Dizem que esta deficiência só acontece com o primeiro filho. Mas essa percepção é apenas mais um mito para consolar e desculpar os pais, pois não é verdade. No primeiro filho a incompetência dos pais é apenas mais visível – os desgraçados dos primogénitos são de facto uma espécie de vítimas de guerra, mas a verdade é que com os restantes filhos os pais são igualmente maus pais. Não aprendem nada. A diferença é que estão mais à vontade com a sua incompetência. Por isso e só por isso é que parecem melhores. Melhoram o marketing, mas o produto continua intragável.
Os pais não sabem o que fazer perante um filho doente, não sabem dar ordens coerentes, não sabem brincar a sério, não sabem dar explicações aos filhos. No fundo, não vêem um palmo à frente do nariz quando o assunto são os filhos. Se a criança se magoa a andar de bicicleta, não anda de bicicleta, se não aprende, a professora é má, se está doente na creche, muda de creche, se não quer comer sopa, come cereais, se tosse, vai às urgência visitar as bactérias, se gosta de calças rasgadas, cortam-se as calças, se gosta de telemóveis, pode estragar o tablet do pai, etc. Os pais perdem a razão, o raciocínio, a postura, o bom senso, a inteligência e toda a sensibilidade na sua relação com os filhos. Qualquer filho é mais bem educado por lobos ou por macacos do que por pais.
Eu acho que os pais estão próximos de mais dos filhos para conseguirem ser bons pais. Não se distanciam, não pensam. Os pais sabem dar beijinhos, sabem dar abraços, muitos mimos e exibir os filhos aos amigos. Não sabem fazer mais nada. Por isso deviam deixar todo o resto a outras pessoas, a qualquer pessoa menos a eles. Os pais deviam passar os dias a bajular os filhos e a dizer que eles são as melhores crianças do mundo. De resto, deviam sempre chamar alguém competente para exercer a função de pais conforme a situação.
Existe um programa de televisão em que um tratador ensina os donos a lidarem com os cães. A coisa resulta. O senhor vai a casa do cão, passa lá umas horas, ensina-lhe uns truques, ensina outros truques aos donos e eles passam a entender-se. Ora outra solução para este problema dos pais seria produzir um programa igual a este com o objectivo de ensinar os pais a lidarem os filhos. Se o método resulta com os cães também deve resultar com os filhos. Porque os donos são normalmente os mesmos: os pais.
Comentários
Quer que as criancas sejam educadas por quem?!
Penso que o problema será mais de fundo: o que são os filhos para esses pais? Uma resposta biológica ao "relógio" biológico, uma resposta ao desejo caprichoso de ser mãe ou um Dom acolhido pelo casal que o aceita não como "proprietário" mas como fiel depositário, e bem ciente que a sua missão é preparar essa criança para mais tarde ser um adulto idependente e com valores?