Antes o Relvas que tais selvas
Henrique Monteiro
Expresso on-line 2013-02-20
Os símbolos são aspetos importantes da vida em sociedade, todos o sabem. Ora Relvas tornou-se neste Governo um símbolo. Porque é trapalhão, porque é e sempre foi um boy, porque tem um curso à trouxe-mouxe e porque é suspeito de imiscuir-se nos conteúdos da informação pública, como a RTP ou a LUSA.
Relvas há muito devia ter saído do Governo pelo próprio pé - ou a mando do primeiro-ministro. Mas ficou. E, no auge da impopularidade do Executivo, no cume da sua própria desgraça, renasce pela mão de uns contestatários que lhe cantam o Grândola, chamam-lhe fascista e ladrão (o primeiro adjetivo não cola pela certa) e o impedem de falar. E Relvas, que já tinha demonstrado, como diz quem o conhece, saber engolir elefantes, hipopótamos e tiranossauros rex, ressurge. Sem jeito, sem voz para cantar, sem nada que se veja, mas com calma, pedindo mesmo ao organizador do Clube dos Pensadores (que nome!) para não chamar a polícia. No meio do desacato, tanto no Porto como em Lisboa, se fosse necessário identificar um malfeitor, não seria ele por certo.
E isto é um favor que se lhe faz. Se eu fosse do estilo de levar a teoria da conspiração aos limites, diria que aqueles jovens estavam ao seu serviço.
Acontece, ainda, que Relvas é um seguro (hony soit..) do Governo. Basta sair à rua e dizer umas coisas para entre canções e insultos, ninguém se lembre que andam por aí a cortar quatro mil milhões. E, já agora, para que alguns, os mais velhos, recordem que quando era "o povo a mandar" (não no sentido democrático do termo, mas no sentido de poder da rua), esse "povo" não queria eleições, nem pluralismo, nem imprensa livre. E nesse momento possamos, a contragosto, tendo em conta a figura, pensar que antes o Relvas que tais selvas...
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