Diretamente da escadaria, o poeta

FERREIRA FERNANDES
DN 2012-11-16

A melhor reportagem sobre os momentosos acontecimentos da escadaria do Parlamento, encontrei-a ontem num blogue, o Delito de Opinião. Dizia: "Não te candidates nem te demitas. Assiste./ Mas não penses que vais rir impunemente a sessão inteira./ Em todo o caso fica perto da coxia." Assinava a reportagem Alexandre O'Neill. Vocês vão dizer: como crer em factos narrados sobre anteontem, quando o homem já morreu há 26 anos? Respondo: era poeta, vê longe. Eu, por exemplo, não sou, e fiquei-me pelo que mais mexia: os rapazolas das pedras e os polícias que os aguentaram, aos rapazolas e às pedras, hora e meia mas não eternamente. Enfim, escrevi sobre o óbvio (que os revolucionários façam a revolução e que os polícias policiem) e dei pouca atenção aos mirones. Mas esse fluir fundo não escapou ao poeta. Eu com olhos nas pedras e nos bastões, e O'Neill nessa improbabilidade de gente que nunca passa fora da passadeira ficar ali a olhar a boçalidade dos rufias. Ontem, a maioria dos testemunhos era dessa gente, queixando-se de ter levado por tabela. Ao que o poeta responde que não há espetáculos grátis. Queres ver pedras atiradas? Então, prepara-te, "fica perto da coxia..." Aliás, o poema de onde os versos são tirados abre com um conselho: "Não te ataques com os atacadores dos outros." Aqueles canalhitas das pedras, logo no começo das manifes, são má companhia, não só no fim. (A José Navarro de Andrade, que lembrou o poema, obrigado).

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