O ouro do silêncio

VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
DN 16 novembro 2012

Alguns conhecidos banqueiros têm-se destacado recentemente com afirmações polémicas sobre a capacidade dos portugueses suportarem a austeridade. Ninguém contesta o direito de cidadania dos banqueiros a expressarem-se na praça pública, mas a verdade é que algumas declarações desafinadas dão a impressão de que já ninguém se lembra da sua responsabilidade no estado deplorável a que chegámos como país. Com efeito, a dívida pública portuguesa é atualmente de 120% do PIB, enquanto a dívida privada (famílias e empresas) atinge o valor assustador de 370% do PIB (somos a 2.ª dívida mundial, logo depois do Japão). As responsabilidades dos dirigentes políticos e partidários têm sido escrutinadas e os responsáveis do esbanjamento de dinheiros públicos são objeto de crítica pública. Mas importa não esquecer o papel da banca na canalização desenfreada de fundos externos para a vertigem de crédito da primeira década do século XXI. Os bancos geridos com prudência não emprestavam mais do que 85 a 90% do valor dos seus depósitos. Ora, as estatísticas revelam que em média os oito maiores bancos nacionais chegaram a emprestar 165% do total dos depósitos. Perante a falha de perceção das autoridades de supervisão, a banca deixou-se dominar por uma ganância desmesurada, despejando agressivamente crédito sobre os clientes sem garantir a sua sustentabilidade. A banca, e já nem falo nos casos de polícia como o do BPN, revela bem que uma sociedade inteira pode ser vítima das decisões insensatas de uma pequena elite que se esquece que o privilégio só se justifica se for acompanhado por uma atitude superlativa de responsabilidade social. O que, no caso vertente, não se aplica manifestamente. Se não há vergonha, ao menos um pouco de recato seria recomendável.

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