As más da fita

SOL 20 de Novembro, 2012
Jaime Nogueira Pinto

A crise ressuscitou, entre a esquerda pátria, aqueles tiques que, noutras paragens, levaram a grandes tragédias e massacres em nome da virtude, da superioridade moral e da missão histórica dos portadores das utopias humanitárias do século XIX – criar um mundo perfeito ou quase e para isso remover tudo e todos no caminho de tal missão.
Para eles há uma via e só uma para o bem moral e social, para a sociedade perfeita – sem guerras, sem Estados, sem ricos, sem pobres, a tábua rasa sonhada pelos pensadores destes terrestres paraísos.
Em Portugal, os famosos ‘brandos costumes’ (que vêm de sermos uma nação muito antiga, arrumada no canto ocidental da Europa, junto ao Atlântico), temperaram esta brutalidade e violência. Mesmo assim, basta um olhar à I República ou a alguns momentos do PREC em que essa esquerda teve poder, para perceber do que falamos. E em 1975, convém lembrar, eles foram parados pela força e não pela autocontenção, como às vezes as lendas antifascistas querem fazer crer.
Esta virulência esquerdista acordou esta semana de revivalismo de amanhãs cantantes nos desafinados coros para a ‘Greve geral’. Mas neste mundo glorioso, para haver os bons, é preciso haver maus.
Desta vez não são maus. São más, as más. As más da fita, agora, são Isabel Jonet e Angela Merkel. A primeira cometeu o pecado mortal de, em vez de fazer dos pobres uma abstracção simpática, uma causa de indignação intelectual, um tema de profundas reflexões, de jornadas de fim-de-semana ou de comoção em comício, de se ocupar deles, dos pobres, há muitos anos. Com realismo, discretamente, com obra feita no terreno, gente ajudada. Indo buscar onde sobeja para trazer onde faz falta através de uma rede de voluntariado.
Os moralistas de serviço quiseram fazer dela, explorando uma frase menos feliz, fora do contexto, a má da fita, uma espécie de senhora ‘da alta’ que manipula a miséria para fazer a caridade e exibir bons sentimentos. O que eles fazem e fizeram sempre.
A senhora Merkel é outra coisa: os esquerdistas que odeiam a União Europeia como o antro de Supercapitalismo Financeiro e que se armam agora em grandes patriotas (é curiosa esta manipulação do patriotismo e do nacionalismo por estes internacionalistas que ajudaram a dar cabo da nação) queriam que essa odiada Europa fosse a Segurança Social dos povos e deles, a pagadora e apagadora das loucuras domésticas.
Os esquerdistas europeístas – que acreditavam que a Europa era a antecâmara dessa generosa utopia mundial dos seus delírios, com os alemães e todos aqueles desagradáveis e sisudos nórdicos (suicidas, criptonazis, tarados e criminosos da trilogia Millennium) fossem uns simpáticos financiadores da latinidade leda e boémia.
Em nome de tudo isto, esta gente – a gente que foi governando, uns ideológica, outros materialmente – a III República nos últimos 38 anos, destruiu as bases históricas, estratégicas e económicas da nação. Recriou a pobreza e criou a dependência, trouxe a miséria e a troika.
Mas as culpas são da Isabel Jonet e da Angela Merkel.

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