Fabrice Hadjadj : «É preciso empunhar a espada para difundir o Reino do amor»

Famille Chretienne| 17/11/2015 | Numéro 1975 | Par Fabrice Hadjadj

Tínhamos perdido a guerra. Não estou a falar de um insucesso. Pelo contrário, habituámo-nos a dormitaar no conforto e nos sucessos, até uma doença, um acidente, um fait divers, um mal, sem luta nem inimigo, nos levarem como um computador que pára , a uma falta de significado muito aquém do absurdo. 
Tínhamos amolecido, tínhamos perdido toda a virilidade, reduzidos ao estado de crianças mimadas a fazer a sua birra, de maníacos pelo cardio-training, de alheados consumidores de pornografia. Queríamos, não a paz que fazemos, mas a que nos enfiam, sem sequer nos importarmos com o preço das devastações, dos «danos colaterais». Mas «a paz é obra de justiça», diz Isaías, e é normal , quando se recusa este combate pela justiça, que a nossa paz aparente nos salte à cara. E eis que deambular pelas ruas deixou de ser normal, como para pessoas blasés que se passeiam. A guerra ultrapassou-nos. Dentro da ordem do acordar, já é alguma coisa. Mas esta guerra, vamos ganhá-la? Iremos combater o «bom combate» segundo as palavras de São Paulo?
Na vida cristã o que domina é a figura do amor, a do irmão, do filho, daquele que dialoga, daquele que tem compaixão. Mas já não nos podemos esquecer da do guerreiro. Guerreiro cujas armas são, primeiro que tudo, espirituais, mas de qualquer maneira, guerreiro. Claro que, contrariamente ao que afirma um certo darwinismo, a vida é comunhão antes de ser combate, dom antes de ser luta. Mas uma vez que esta vida é abençoada desde a origem, apesar de atacada sem cessar pelo Maligno, é preciso lutar pelo dom, combater pela comunhão, empunhar a espada para difundir o Reino do amor.
"A vida é comunhão antes de ser combate, dom, antes de ser luta. Mas uma vez que esta vida é abençoada desde a origem, atacada sem cessar pelo Maligno, é preciso lutar pelo dom, combater pela comunhão, empunhar a espada para difundir o Reino do amor."
Se não reencontrarmos esta virilidade guerreira, a mesma que fazia com que São Bernardo cantasse um «elogio da nova cavalaria», teremos perdido contra o islamismo quer espiritual quer materialmente. Muitos jovens, com efeito, voltam-se para o islão porque o cristianismo que nós propomos já não inclui nem heroicidade nem cavalaria (enquanto Tolkien está connosco), reduzindo-se a conselhos amenos de civismo e de comunicação não-violenta.
Qual o verdadeiro terreno desta guerra ? Há quem gostasse de nos fazer acreditar que o que faz a força dos terroristas da passada sexta-feira dia 13,  é o facto de terem sido treinados, formados nos campos de Daech, de maneira que o combate ainda se limitaria ao da potência tecnico-capitalista a fabricar um armamento mais pesado. Em que é que um jovem detido à porta de segurança e que se faz explodir com bombas rudimentares, é um soldado experimentado? Sabemos – e a experiência recente de Israel provou-o – que toda a gente se pode tornar num assassino improvisado desde o momento em que seja assaltado por uma decisão suicida. Aquilo que faz a sua força de destruição, pronta a explodir quando quer que seja, onde quer que seja, não é a sua capacidade militar mas a sua segurança moral.  Para impedir o contágio, o que podemos oferecer em contrapartida? Os nossos «valores» são capazes de arrastar exércitos de consumistas e não de combatentes. É também aí que reside o combate elementar - à altura de uma fé que sabe afirmar um verdadeiro mártir - contra a paródia diabólica do mártir que o atentado-suicida é.
O comunicado de Daech a reivindicar o «ataque abençoado» fala de Paris como a capital «que traz o estandarte da cruz da Europa». Era bom que ele dissesse a verdade. A guerra está aqui: na coragem de trazer uma esperança forte o suficiente para podermos dar as nossas vidas e dar a vida.

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