Arménio Carlos e Cavaco Silva em dueto

António Costa antoniocosta.jornalista@gmail.com
Económico, 20151120

A CGTP não quer que a TAP entre em concorrência com as ‘low cost’, mas a notícia é outra. Arménio Carlos é especialista em aviação e será, quem sabe, candidato a substituir Fernando Pinto na presidência da companhia aérea, agora controlada por privados.
O líder da CGTP sente-se o novo dono disto tudo e, por isso, já não lhe chega exigir a reversão de negócios, também quer geri-los.
A TAP não é a Ryanair e, convencido da sua sapiência na aviação, garante que a companhia que tem agora Pedrosa e Neeleman como principais accionistas não deveentrar ‘neste jogo da concorrência’. Percebe-se, a concorrência e o mercado não serão coisas que assistam ao líder do PCP, perdão, da CGTP, mas seria conveniente lembrar a Arménio Carlos que as ‘low-cost’ estão aí para ficar e para ganhar se a TAP nada fizer e continuar sentada na sua suposta grandeza de companhia de bandeira, como se fosse um nobre que é dono de um casarão vazio.
Arménio Carlos não quer a privatização da TAP. Quer a reversão das concessões das empresas de transporte e a reversão da fusão entre a Estradas de Portugal e a Refer por maus motivos. Exactamente porque não quer concorrência num mercado onde está sozinho, monopolista - o da representação sindical e representação dos trabalhadores que estão na companhia. Aqui, como em todos os outros sectores, dos empregados, não dos desempregados. 
Os trabalhadores não devem participar nas decisões de gestão dos accionistas? Claro que sim, os que estão nas empresas e as comissões de trabalhadores, não os patrões, leia-se as centrais sindicais. Porque será que a CGTP ‘não entra’ na AutoEuropa, mas não há notícia de crises laborais?
A intervenção de Arménio Carlos sobre a TAP, que se seguiu, por exemplo, à defesa de um aumento unilateral do salário mínimo sem passar pela concertação, mostra o que aí vem com o governo minoritário de António Costa. Dependente da CGTP não só para aguentar as ruas, mas para aguentar o próprio governo. 
É claro que Cavaco Silva se enredou nas suas próprias contradições: dos riscos dos partidos anti-europeus para a credibilidade de Portugal nos mercados financeiros à credibilidade internacional de um país que não está numa crise política, já disse de tudo. E, depois de garantir que tinha todos os cenários na cabeça, está comprometido com uma decisão da qual já não sairá bem. 
Criou expectativas à Direita de que não indigitará um governo minoritário de Esquerda e, agora, já ninguém acredita noutra solução. Nem sequer Passos Coelho e Paulo Portas. 
Depois de ouvir economistas e banqueiros, o Presidente reúne hoje com os líderes partidários e, provavelmente, vai exigir mais acordo a um (não) acordo da Esquerda para limitar os danos, os seus danos de imagem. Mas, passadas estas semanas, e com a evidência de que dificilmente a Esquerda poderá dar mais do pouco que deu, Cavaco só tem na verdade dois caminhos extremos: dá posse ou não dá posse. Não há terceira via e, se houver, será para enganar. 

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