O cônjuge ideal

Ignacio Larrañaga
In O matrimónio feliz, ed. Paulinas
28.05.14 SNPC
O cônjuge ideal será aquele que se sinta tão seguro de si mesmo que nunca considere o outro seu rival, mas que, pelo contrário, seja possível viverem os dois para sempre como companheiros leais, dedicados a uma causa comum.
Um cônjuge que estabeleça um tal espaço de liberdade, que tudo o que disser seja pura transparência, de tal maneira que o outro não sinta temor de lhe manifestar tudo o que sente no seu interior, porque sabe que não se ofenderá.
Um cônjuge que seja capaz de remover as pedras do caminho, de tal modo que os dois juntos possam caminhar ao sol com a mesma alegria das crianças, quando constroem castelos de areia na praia.
Um cônjuge que saiba que o prazer do encontro sexual é a canção da liberdade, como quando as suas asas se estendem ao sol. Eles sabem que maré alguma poderá apagar as pegadas dos seus pés, porque num certo dia venturoso encontraram-se num mesmo sonho.
O cônjuge ideal será aquele que tiver consciência da fortaleza e da debilidade do outro, sem que nunca lhe ocorra aproveitar-se delas. Os seus braços serão refúgio para os momentos de desânimo do outro; e a fortaleza de um, trincheira aberta para os combates do outro.
Um cônjuge que sabe que não se podem apanhar as tempestades com uma rede, e que serão livres quando os seus dias e as suas noites estiverem isentas de perturbação, pois nesse dia serão como torre levantada no cume de um alto monte.
Um cônjuge que saiba respeitar e reconhecer os carismas pessoais do outro e os seus quadros de valores, para que juntos, possam edificar, sobre eles, um sonho antigo.
O cônjuge ideal é aquele que não teme entrar no recinto da ternura, não cora ao confessar-se débil nem se envergonha de pedir ao outro o estímulo para a luta de cada dia.
Um cônjuge que não interprete o amor como debilidade: que, porque ama, pense que o outro é o vencedor, ou, pelo contrário, se sinta superior pelo facto de ser tão amado.
Um cônjuge que seja um manto de proteção para o outro, frente aos ataques do exterior, mas que também o proteja de si mesmo.
Um cônjuge que conhece os erros do outro e os aceita sem recriminar, e caminha a seu lado a fim de os corrigir.
Um cônjuge que sabe que o amor sempre cantará, sem necessidade de dar explicações.
Um cônjuge que em cada amanhecer alimenta o amor com um novo favo de mel; e que, antes de nascer o sol, se dirige ao jardim interior para cortar um cravo coberto de orvalho, e o oferece ao outro sem dizer palavra.
O cônjuge ideal é aquele que sabe que o matrimónio é como um mar dilatado e que os dois são navegantes que todos os dias saem para o mar alto, à descoberta de novos mundos em águas desconhecidas.
Um cônjuge que sabe que a realidade do outro não reside naquilo que ele revela, mas naquilo que não pode ser revelado.
Um cônjuge que sabe e aceita que, para descobrir a verdade, são necessárias duas pessoas: uma para dizê-la e outra para escutá-la.
Um cônjuge que sabe que, quando se voltam as costas ao sol (do outro cônjuge) só se veem sombras.
O cônjuge ideal é aquele ser capaz de vibrar, como as cordas de um alaúde, frente à beleza e ao êxtase da vida, porque a vida é mesmo assim: é possível silenciar a cítara soltando as cordas, mas, quem poderá silenciar as andorinhas do céu?
Um cônjuge que tenha os olhos abertos para o mistério geral da vida, aceitando com igual serenidade tanto a dor como a alegria, sem se assustar com a marcha ziguezagueante do espírito humano.
Um cônjuge que, sentado à sombra de uma fortaleza, se mantenha imutável frente às adversidades, sem se deixar abater pelos fracassos, transformando os contratempos em estímulos, e erguendo-se uma e outra vez sobre as cinzas do orgulho.
Um cônjuge, enfim, capaz de responder com todo o peso da doçura, quando, de repente, surge o gesto azedo, que nunca resvala pela encosta da ironia nem da ofensa, e que em cada dia amanhece oferecendo uma aurora, sem nunca permitir que as correntes se enrolem à cintura da liberdade.
E assim, enquanto as estrelas dormem, silenciosas, na escuridão da noite, vão navegando até àquela praia distante com que sempre sonharam.

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