Lisboa: "a quarta mais bonita cidade do mundo"

Saragoça da Matta, ionline 2014.05.09
Para quem vive mesmo Lisboa, quem suporta a sujidade, prédios degradados,passeios desfeitos e o alcatrão inexistente, são ridículos estes títulos internacionais
O povo ligou a televisão e viu, boquiaberto, dois secretários de Estado no Cais de Sta. Apolónia a regozijarem-se com a presença simultânea de três paquetes britânicos de luxo, carregando milhares de consumidores. Título: Lisboa é - oficialmente - a "quarta mais bonita cidade do mundo" e um dos "destinos preferidos de cruzeiros".
Perante a inusitada reunião de navios, logo se ufanaram os políticos, palrando para as câmaras televisivas, aceitando os jornalistas cobrir o evento sem fazerem uma das únicas perguntas que se impunham para a desmistificação.
Também se ufanaram os taxistas e comerciantes com a possibilidade de recolher algumas migalhas do alardeado milhão de euros de consumo que os turistas representariam. Com que critérios se fazem tais previsões de expectativa de gastos é que era engraçado saber. Mas isso pouco importa. Ao cabo e ao resto, valem tanto como todas as outras previsões com que nos brindam, até que se desmoronam perante a realidade.
O que importa é que os titulares de cargos políticos, sabedores da presença dos navios, logo se aprestaram a rapinar algum do crédito pela presença dos cruzeiros. Como se deles dependesse um único dos cêntimos a serem gastos nas redondezas pelos turistas.
Infelizmente, nenhum jornalista lhes perguntou o que tinham determinado no governo e o que tinham exigido à câmara para que fosse corrigido o estado calamitoso das envolventes urbana e humana de Sta. Apolónia. Nem os confrontaram com o pavor que é o pavimento das ruas e passeios de Lisboa, principalmente na zona histórica do Terreiro do Paço ao Príncipe Real.
Não lhes perguntaram se já desceram a pé do Jardim de S. Pedro de Alcântara ao Camões. Se viram que não há passeio de um dos lados da rua (mercê de um prédio em ruína há décadas). Se se aperceberam de que o passeio do outro lado da rua está todo esburacado. Se sentiram o pavimento de alcatrão, que é um buraco pegado. Se protestaram junto do presidente da câmara pela vergonha em que está aquela via urbana há mais de três anos. Nem o que fizeram para erradicar a insalubridade pública do Bairro Alto na sequência das noites de sextas e sábados, em que é urina, fezes, copos, garrafas partidas do Camões ao Príncipe Real, tudo entremeado pelo escancarado tráfico e consumo de droga!
Ninguém lhes perguntou o que fizeram para garantir a segurança dos turistas, exigindo que as câmaras de vigilância há muito instaladas sejam ligadas. Nem perguntaram se eles manifestaram já a alguém o escândalo que é, para a imagem de uma cidade que se pretende turística, o matagal que cobre os prédios que circundam a Praça da Figueira. Se algo fizeram, sem chamar as câmaras de televisão, que realmente contribuísse para o turismo da cidade...
É que para quem vive mesmo Lisboa, quem suporta a sujidade, os prédios degradados, os passeios desfeitos, o alcatrão inexistente, a polícia ausente para evitar o crime, são ridículos estes títulos internacionais.
É que uma cidade tem de ser, antes de mais, para quem a vive!

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