«Café suspenso»

Ionline 2013-11-30
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada

Quando fui dar sangue, a enfermeira encarregue da colheita surpreendeu-me com uma estranha pergunta: Qual é a bebida dos padres? Ainda alvitrei o vinho, dados os seus antecedentes bíblicos e as suas conotações eucarísticas, mas sem êxito. Com efeito, segundo a minha interlocutora, a bebida dos padres é o café. Ante a minha surpresa pela sua resposta, justificou-a dizendo que os sacerdotes passam a vida a dizer qu'a fé é dom de Deus, qu'a fé vence todas as dificuldades, qu'a fé é que salva, etc.
A história vem a propósito não só do Ano da Fé, findo no passado dia 24 de Novembro, mas também de uma feliz iniciativa, que dá pelo nome de «café suspenso». Originário de Nápoles, mas já presente na Bélgica e em outros países, o «café suspenso» é uma doação dessa bebida a uma pessoa necessitada. Assim, por exemplo, um cliente encomenda e paga dois cafés, um para o seu próprio consumo imediato e o outro «suspenso», ou seja, destinado a ser servido a quem dele possa, mais tarde, precisar. Através desta acção, qualquer pessoa carente poderá depois beneficiar dessa bebida, sem necessidade de satisfazer o preço respectivo, já adiantado pelo anónimo benfeitor. Para além do café, há quem também recorra ao mesmo sistema para proporcionar pães, bolos ou até refeições completas.
Ninguém pode, por si só, acabar com o flagelo da fome no mundo, mas todos podemos proporcionar, pelo menos, uma comida ou bebida quente a quem a não pode pagar.
Não sei se o café é, efectivamente, a bebida dos padres, mas tenho a certeza de que o «café suspenso» é, sem dúvida, a bebida da caridade cristã e da solidariedade de todos os homens e mulheres de boa vontade.

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