Violência bárbara

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada
ionline, 2013-11-09

Já muito se disse sobre o mediático caso do ex-ministro e da apresentadora de televisão. Mas não tudo.
Alguma imprensa explorou o sórdido episódio o mais que pode, chapinhando alarvemente na lama das calúnias avulsas. Cronistas houve que procuraram elevar o nível com considerações de carácter ético, repetindo o que é óbvio em situações deste jaez. Também não faltou quem se aproveitasse para fazer graça sobre a desgraça alheia, com uma leviandade que chega a ser cruel.
É verdade que, em democracia, a imprensa não deve ser silenciada pela mordaça da censura. Também é razoável que a vida privada de figuras públicas tenha eco nos meios de comunicação social. Mas a liberdade informativa não pode ser confundida com a irresponsabilidade total, nem a notoriedade manifesta de algumas pessoas legitima que se exibam, na praça pública, as suas intimidades familiares.
Por ocasião do acidente que vitimou a Princesa Diana de Gales, a imprensa acordou não publicar as fotografias da agonizante, num gesto de contenção e de respeito pela pessoa visada e pela sua família, o que mereceu aplauso generalizado e que certamente dignificou a comunicação social. Entendeu-se – e bem! – que um aproveitamento sensacionalista da tragédia contrariava os mais elementares princípios deontológicos. Mas seria conveniente que este critério ético se aplicasse a todos os casos, sobretudo quando há menores a proteger.
A violência doméstica, de doméstica não tem nada: é um selvático crime, que não pode ficar sem castigo. Mas a agressividade de algum jornalismo – que, de verdadeiro jornalismo, pouco tem – não deve ficar impune, porque não é menos selvagem.

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