Pequenos deuses

João Pereira Coutinho | Correio da manhã | 14.05.2016

No debate sobre a eutanásia quem nos protege dos médicos? 

Soubemos agora que, na Holanda, doentes com depressão severa podem pedir a injecção letal. E os médicos agem em conformidade. Estranho. Eu julgava que uma pessoa com doença psíquica grave talvez não fosse um caso de lucidez em matérias de vida ou morte. Enganei-me. O depressivo pode ser alegadamente incurável; mas, na hora da eutanásia, ele recupera a saúde mental para uma escolha irreversível. É também por isto que a ‘eutanásia’, o próximo tema ‘fracturante’, me gela os ossos. Nas discussões da praxe, fala-se dos direitos do doente a uma ‘morte digna’. Mas esquecemo-nos dos abusos dos médicos, que também existem. Como lembra um autor que aprecio (David Callahan), o juramento de Hipócrates não é uma mera formalidade. É uma barreira ética contra a tentação de qualquer médico em exceder os seus limites e, por acção, omissão ou sugestão, comportar-se como um pequeno deus.

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