A Amélia sorriu

MIGUEL ESTEVES CARDOSO Público 13/06/2015

Se a igreja de Almoçageme é hoje digna, bem arranjada e bonita deve quase tudo ao povo de Almoçageme, com a Dona Amélia à frente.
É hoje o funeral da Amélia. A missa é na Igreja de Almoçageme, a vinte passos das nossas duas casas, às dez e meia da manhã. Será celebrada por um grande amigo dela: o prior de Colares, José António Rebelo Silva.
Na dia 3 ela organizou e ajudou a missa pela alma da minha mãe. Quando lhe disse que tinha morrido ela sorriu e consolou-me: "ainda bem. Está com Deus nosso senhor".
No Domingo estivemos outra vez com a Amélia na missa que também foi de sétimo dia para a minha mãe Diana e para um senhor chamado Henrique.
Se a igreja de Almoçageme é hoje digna, bem arranjada e bonita deve quase tudo ao povo de Almoçageme, com a Dona Amélia à frente.
Quando ela, há quase meio-século, veio de Arouca para casar e viver em Almoçageme, encontrou uma igreja em mau estado. Logo a seguir morreu o marido, deixando-a com um filho com oito meses de idade: o Armando, que ela amava tanto quanto uma mãe pode amar um filho - e mais um bocado grande.
O filho correspondeu sempre ao amor dela. Foi tão bom filho como ela era boa mãe. Ouvi-la a falar dele ou ouvi-lo a falar dela (ou vê-los juntos) enchia-nos o coração de amor.
Através dos anos ela foi restaurando e aperfeiçoando a igreja (e as lindas procissões de Outubro e de Maio) com paixão religiosa, sentido prático, inteligência estratégica e boa vontade.
Estivemos com ela mesmo antes de ela morrer. Estava deitada na relva. Chamei por ela. Sorriu e chorou uma lágrima. Já o céu e uma aldeia inteira chorarão sempre por ela.

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