Hoje faço 60 anos

O título e a ideia são do Miguel Esteves Cardoso.
Logo em Janeiro anunciou que este ano fazia 60 anos e dividiu a vida em fatias de 15 anos.
É hoje que faço 60 anos e olho para a vida que passou em três períodos de vinte anos.
Eu - Nos primeiros 20 anos recordo o ambiente da família de origem, os meus pais, os meus 8 irmãos, os avós que eram próximos. É o tempo da afirmação da identidade; é o tempo em que tomei consciência que há eu e tu. É o tempo da escola, do liceu e da entrada na faculdade. Foi neste tempo que morreu o pai, muito novo. Ficou sempre o sentimento de uma oportunidade perdida. Teria gostado de partilhar com ele outros períodos da vida, pedir-lhe conselho, ouvi-lo. Quase no fim destes 20 anos, o eu conhece o tu da minha vida.
Nós - Tornámo-nos inseparáveis. O eu passou a nós. Como a vida ensina nem sempre é automáticamente fácil. Foi nestes 20 anos que casámos, que juntos fomos iniciar a minha carreira académica na Califórnia. É também o tempo de afirmação de uma identidade diferente. A família começa com a Inês. Uma história feliz. Afinal tudo parecia estar a correr bem. Mas logo depois começamos a aprender que a vida não é sempre indolor e o significado do que acontece tem que ser procurado vivendo. A Leonor ensinou-nos este significado profundo da vida, o seu misterioso valor apenas porque é. Foram anos cheios, duros, sofridos mas felizes.
Percebi que o eu é salvo pelo tu antes de se tornar nós.
Porém, o nosso nós era um nós estóico e solitário.
Nós em companhia - A Leonor no céu e a Constança na terra deram-nos a conhecer o milagre da companhia. Demo-nos conta que o caminho que é a vida pode ser percorrido com mais verdade seguindo Quem de Si disse que era verdade, vida e caminho; e a maneira de o fazer é seguir aqueles que O seguem. A Igreja abriu-nos as suas portas de misericórdia e descobri uma forma mais luminosa de ver o que já conhecia: a inteligência da Fé ajuda a ver não apenas o comprimento, a largura e a altura, mas também, a quarta dimensão a que S. Paulo alude: a profundidade.
Vi mudar em mim até a maneira como ensino os meus alunos.
Nestes últimos anos, o privilégio de termos duas filhas no céu, desde que a Constança também morreu, e uma filha-mãe dos nossos quatro netos aqui na terra a fazer o mesmo caminho de vida verdadeira é uma graça imensa. Ver a família da Inês e do Gonçalo fazer esta mesma estrada é uma educação permanente.
Chego aos sessenta anos com esta consciência da necessidade de uma educação que começa em primeiro lugar por mim. Foi assim que nasceu o Povo. Como procura de conhecer a realidade e poder ajuizá-la. Comecei por partilhar este juízo com alguns amigos e o número foi crescendo. Misteriosamente tem sido uma preciosa companhia de caminho. Uma companhia feita de liberdade e consciência individual que procura a comunhão. Hoje, rezarei por este Povo com quem me faço à estrada todos os dias.
Pedro Aguiar Pinto

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