Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos!

«No fundo da China existe um Mandarim mais rico que todos os reis de que a Fabula ou a Historia contam. D'elle nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a sêda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedaes infindaveis, basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. Elle soltará apenas um suspiro, n'esses confins da Mongolia. Será então um cadaver: e tu verás a teus pés mais ouro do que póde sonhar a ambição d'um avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?»
In O Mandarim, de Eça de Queiroz
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"só sabe bem o pão que dia-a-dia ganham as nossas mãos"
Quase 20 anos passados, que longe vão já os delírios cósmicos da série Espaço 1999.
Estamos em 2012, quase em 2013, datas que parecem de ficção científica.
E contudo, no fundo Português continua a existir, inexoravelmente, um Teodoro, bacharel e amanuense.
Como Teodoro, descobrimos um dia numa feira apátrida, uma promessa e uma lenda.
Segundo as quais, numa negação de carácter, no toque de campainha de um simples “vender de alma ao Diabo” a uma certa hora maligna, matavam-se de uma penada Portugal, o carácter de um Povo, os seus santos e os seus heróis.
Toda a nossa história.
Mas herdávamos milhões.
Fomos aconselhados a tocar a campainha e tocámos.
Vieram os milhões e começou, então, uma desenfreada vida de luxúria e dissipação.
Traímos, abandonámos e espoliámos.
E fomos traídos.
Hoje, corre tudo mal.
Em vão, tentamos fugir dos remorsos pelas desgraças que fizemos.
Temos visões.
Que Portugal ressuscite e nos livrem da fortuna.
Deixemo-la ao Diabo que a fez e no-la deu.
E invoquemos Deus.

Miguel Alvim
Advogado

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