A César o que é de César, mas o homem é de Deus

“A César o que é de César, a Deus o que é de Deus”.
As doutrinas que no último século postularam o homem sem Deus porque tudo se reduzia a matéria, com o virar do século XX pareciam caducas e sem grande acolhimento. O muro de Berlim caiu e a pátria do materialismo desmoronou-se. Os partidos de inspiração socialista passaram a admitir a propriedade privada, o mercado e o pluralismo democrático. Por isso se tem perguntado – que bandeiras têm hoje? E apenas temos vistos as questões de civilização ou fracturantes – o aborto, a eutanásia, o divórcio, o casamento gay, “educação” sexual, liberalização das drogas, experimentação em embriões humanos, eugenismos vários, etc., etc..
Mas esta agenda não é só desse sector político, já invadiu a política do centro direita, os meios intelectuais mais diversos, as nossas famílias e até alguns sectores religiosos. O relativismo é o factor de propagação.
Cada vez que uma lei é aprovada perguntamo-nos – mas porquê esta agenda? Porque se destrói o casamento com a lei do divórcio, e logo após se quer o “casamento gay”? Parece contraditório, mas não é.
Há duas formas de acabar com um Instituto (Família) – a primeira é revogá-lo (mas decretar o fim da família era chocante), e os regimes socialistas do século XX tentaram mas caíram primeiro que a Família; a segunda forma de acabar com um Instituto (Família) é equipará-lo a tantas realidades meramente semelhantes que se retira a sua especificidade, e por isso caduca. É o que está a acontecer com o casamento e com a família. A Família e o casamento estão a ser minados pelas leis, pela organização social e pelas formas de vida propostas pelo Poder.
A Família é o primeiro lugar de Amor do homem. E Deus é Amor. Por isso, Deus manifesta-se em primeiro lugar na Família, porque ela é o lugar do amor. Acabar com a Família é tirar Deus ao Homem. A família é também o primeiro lugar de solidariedade. O homem sem família é vulnerável ao Poder.
Tudo isto poderia ser uma doutrina de livros e compêndios, mas não o é. Vive-se. Vive-se na solidão de cada idoso, na dor da mulher que abortou, no desespero da família de um toxicodependente, na amargura de quem vê um filho com práticas homossexuais, nos casais dilacerados pelo divórcio fácil com guerras intermináveis. Vive-se em silêncio porque o mundo não entende estas dores.
O homem apoiado numa família, em corpos sociais intermédios e numa relação com Deus é um homem livre. Ora, o Poder não gosta de homens livres.
A última forma, a forma perfeita do Poder não consente oposição (verdadeira). Acabar com a Família é acabar com a possibilidade de liberdade do homem.
Esta tem sido a história da humanidade – o Poder e a liberdade. Mas hoje este binómio não é claro. Ele joga-se em cada passo, em cada lei que fragiliza mais e mais o homem. Cultiva-se o egoísmo e a solidão sob a capa do direito a dispor do meu corpo (aborto), do direito a ser feliz (divórcio), do direito à morte digna (eutanásia) do direito ao prazer (drogas, sexo e álcool), etc.. O Homem está só e despojado da sua humanidade.
Como é difícil prescindir de “direitos” individuais, o homem vai comprando cada vez mais “direitos” destes. Ao mesmo tempo, torna-se mais só e egocêntrico. Cada vez mais vulnerável ao Poder. Cada vez mais o homem “é de César”.
Cada vez que aprovamos uma destas leis, o que estamos a fazer é a “entregar o Homem a César”.
Mas o Homem é de Deus.


PS – O mote para este escrito foi dado numa homilia do Padre Nuno Amador. A Sabedoria da Igreja é muito grande. Que alegria encontrá-la nas palavras e no ímpeto de uma homilia de terça-feira, dia de S. Justino mártir. Obrigada Padre Nuno Amador.


Isilda Pegado
Presidente Fed. Port. pela Vida

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