Viva o Papa Francisco

Carla Hilário Quevedo, i-online 16 Mar 2013
Durante uma longa hora, nenhum órgão de comunicação social adiantou o nome. Quando as pessoas não falam, não há fugas de informação
Os minutos de atraso da transmissão ao vivo directamente do Vaticano, em The Pope App, permitiram que assistisse duas vezes ao ansiado fumo branco na quarta-feira, 13 de Março. A excelente aplicação do Vaticano para iPhone, etc., permitia que assistíssemos onde quer que estivéssemos ao juramento de silêncio dos cardeais, à sua entrada para a Capela Sistina, à movimentação das pessoas na Praça de São Pedro, aos fumos negros, à gaivota insuspeita pousada na chaminé e, por fim, ao fumo branco que emocionaria milhões de fiéis por todo o mundo. Entre este momento e o do anúncio do nome do novo Papa na varanda da Basílica de São Pedro passou uma hora. Durante uma longa hora, nenhum órgão de comunicação social adiantou o nome. Quando as pessoas não falam, não há fugas de informação. Na verdade, é muito simples.
Jorge Mario Bergoglio, jesuíta, arcebispo de Buenos Aires, de 76 anos, foi o escolhido. Sem ostentações nas vestes nem na linguagem (referiu-se a si próprio como "bispo de Roma" e a Joseph Ratzinger como "emérito"), começou por dizer "boa noite" às pessoas que o aguardavam. Num perfil no "La Nación", Tomás Rivas fala do Papa Francisco (que só será I quando houver um II) como alguém que rejeita a mundanidade e a opulência. Não come em restaurantes, anda de transportes públicos, vive num apartamento simples. No dia em que foi ordenado cardeal, em 2001, por João Paulo II, Guillermo Marcó, seu porta-voz, foi buscá--lo à casa para sacerdotes onde passara a noite. Quando Guillermo lhe perguntou como iriam dali até à Santa Sé, Bergoglio respondeu que a pé e que ainda tinham tempo para tomar um café. Guillermo observou que não estava vestido para passear, ao que Bergoglio respondeu: "Não te preocupes. Em Roma podes andar com uma banana na cabeça que ninguém repara."
Mas enquanto uma parte do mundo estava encantada com o Papa Francisco, o jornalista Horacio Verbitsky recuperava a história infame de que tivera vínculos com a ditadura militar. Bergoglio é acusado de ter retirado a protecção a dois sacerdotes da sua ordem que foram mantidos em cativeiro durante cinco meses. Bergoglio negou as acusações em 2010, no livro "O Jesuíta". Basta um conhecimento mínimo de como funciona a ordem dos jesuítas para saber que retirar a protecção a sacerdotes é simplesmente impensável. Após a acusação do jornalista apoiante dos Kirchner, com os quais Bergoglio sempre teve um péssimo relacionamento, o Prémio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, preso pela ditadura militar no período de 1977-79, veio a público negar o envolvimento de Bergoglio com o regime. Damian Thompson, no "Telegraph", acusou o "Guardian" de estar a propagar uma história não confirmada, participando assim da difamação. Também Graciela Fernández Meijide, líder de esquerda, ateia, defensora da despenalização do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo, numa entrevista ao "El Clarín", veio defender Bergoglio das acusações de envolvimento com a ditadura. A imprensa que persistir em espalhar a mentira corre o risco de estar a cometer um crime.
Fiquei muito feliz com a eleição do Papa Francisco. Está na altura de o resto do mundo se apaixonar por um argentino jesuíta, como me aconteceu a mim.

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