Pobre Japão

Miguel Esteves Cardoso, Público, 2011-03-12

Assisti desde madrugada ao cataclismo no Japão, através de canais de várias línguas e em todos eles, papagueava-se que era uma grande tragédia mas que os japoneses estavam "preparados".

Num canal, pelas 7 da manhã, dizia-se que o número de mortos - naquela altura só um - mostrava a "preparação" dos japoneses. Como viviam numa zona de muitos sismos e tinham muitos recursos académicos, técnicos e financeiros, os japoneses "estavam bem preparados". Num dos portugueses, às oito da manhã, um dos apresentadores da meteorologia dizia, coma a satisfação de quem acaba de fazer uma piada subtil, que o tempo em Portugal não estava bom "mas não tão mau como no Japão". O que nós cá em casa não nos rimos com esta laracha!

Diante as imagens do tsunami a avançar por Sendai, a 700 quilómetros por hora, levando tudo à frente, ouvi repetidas vezes, que os japoneses estavam bem preparados e, de manhã, que o grande perigo era para os outros países próximos, que eram mais pobres - e não estavam preparados. Talvez esta cantilena da preparação seja consolatória - incitando-nos, ocidentais, a prepararmo-nos tão bem como os japoneses, para que as consequências de um grande terramoto por aqui não sejam tão horríveis como tememos. Mas eu cá noto uma estereotopia estúpida e cega. Como é que estavam preparadas todas as pessoas que morreram, os edifícios que caíram e as povoações que foram d estruídas? Nós é que estamos sempre prontos. Para estereotipar. E não ver.

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