Porta aberta

Público 2011-08-10  Miguel Esteves Cardoso

Nos motins em Londres aprendem-se coisas exemplares, a começar pela maneira como a polícia britânica não só intervém como se abstém de intervir violentamente.
No entanto, o mais chocante é a vulnerabilidade das lojas, dos comerciantes. São sempre odiados, injustamente, seja em que parte do mundo: sejam indianos, portugueses, judeus ou de qualquer nacionalidade ou crença. As lojas pilhadas são pilhadas como quem faz justiça, como quem rouba quem roubou. É esta ladroagem, disfarçada de retribuição (nem sequer admitida como vingança), que faz mais raiva.
Uma das consequências oblíquas destes desmandos foi perceber o alcance português de "ter a porta aberta".
Pensava eu que era só uma questão de facilitar (no sentido de garantir) o acesso de inspectores, cobradores de impostos e de todas as outras espécies de oportunistas.
Ter a porta aberta é estar, às horas de serviço, exposto a qualquer espécie de exploração. Em vez de tentar compreender os ladrões (como catalogá-los como jovens, como se todos fossem culpados), seria mais justo identificarmos e compensarmos as vítimas. Que são os lojistas. Que é o comércio. Os clientes e os consumidores não são, nem podem ser ou pensar que são, melhores do que os comerciantes e as lojas onde compram o que querem e escolhem.
Ter a porta aberta é como ter o espírito aberto - e a razão de quem foi roubado, só por vender a quem quer comprar. Às vezes, a culpa é toda de quem rouba e nada de quem é roubado.

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