Em defesa do Colégio Militar
Público 2011-08-06 Miguel Félix António
Pugnar pela sua extinção mais não é do que uma forma encapotada e ardilosa de atacar a existência da instituição militarÀ época em que o Colégio Militar foi criado, os tempos eram conturbados, mas isso não impediu que já nessa altura se revelassem homens de visão, criativos e inovadores, enérgicos e determinados, como foi o caso de António Teixeira Rebelo, então coronel do Exército e futuro marechal.
Curiosamente em 1803 era regente do Reino de Portugal o príncipe D. João (futuro rei D. João VI), trisavô de Duarte Pio de Bragança, que foi aluno do Colégio - o n.º 97 entrado em 1960 e que é hoje um referencial de valores que é justo realçar no meio da desestruturação que campeia.
Quando, nos primórdios do século XIX, António Teixeira Rebelo começou a conceber e depois a materializar a criação de um estabelecimento de ensino, nos moldes em que o pensou, estava seguramente muito longe de pensar que, na sequência dessa ideia, ele se viesse a transformar no que foi e é o Colégio Militar, no que ele representou e representa, nas vicissitudes por que passou e no significado que teve e tem não só para os que o frequentaram e as respectivas famílias, mas também, podemos dizê-lo, para o país no seu conjunto.
Estava certamente distante de admitir que o Colégio fosse alcandorado à fama e à influência de que veio a desfrutar, pelas provas prestadas de forma pública, quanto à excelência da educação proporcionada aos seus alunos, nas suas múltiplas componentes, de que não devem ser descuradas, pela sua relevância, a educação física, mas também a cívica, a instrução militar e desportos mais completos, como a equitação, a esgrima e o pára-quedismo.
Porque, apesar de na sua matriz fundadora o Colégio se destinar fundamentalmente a fornecer a aprendizagem de matérias escolares, o certo é que a formação global não se restringiu às disciplinas curriculares, antes foi completada por uma sólida educação moral dispensada aos seus alunos.
Os últimos anos foram, que me lembre, dos que mais fustigaram o prestígio do Colégio, e dos outros estabelecimentos militares de ensino, no âmbito de um quadro que caracterizo como de revolução silenciosa, com maior ou menor ruído, que vai fazendo o seu percurso para atacar o que são alguns dos principais pilares estruturantes da nação: as Forças Armadas e a família. Contexto no qual se inserem artigos como o que o professor Vital Moreira assinou no PÚBLICO de dia 2 de Agosto.
Vale a pena relembrar que compete ao Estado, nos termos da Constituição Portuguesa em vigor, entre demasiadas e certamente excessivas funções, as de promover o ensino, assegurar a formação, nas suas múltiplas vertentes, dos jovens, e dignificar os valores que se podem considerar integrantes da identidade nacional, incutindo-os desde cedo nos adolescentes; pelo menos é assim que eu também leio a principal lei da nação.
Ora, alguém tem dúvidas de que o Colégio Militar continua a constituir um importante instrumento para o cumprimento de tais desideratos? Que fornece, de forma ímpar, uma educação que pode ser qualificada como integral? Que os seus alunos, durante a permanência no Colégio, aprendem e solidificam todo um conjunto de princípios que, por mais que a desordem mundial evolua, e também por isso, se revelam da maior importância para defrontar os desafios com que diariamente todos somos confrontados? Que a preparação global dispensada aos alunos do Colégio Militar se tem afirmado nos mais variados sectores de actividade da vida nacional? Que, em momentos cruciais da vida do nosso país, a aprendizagem e a vivência que tiveram os torna especialmente aptos para as mais difíceis missões e as mais delicadas situações?
Que o Colégio Militar é elitista, mas à saída, não à entrada? Alguém tem dúvidas da importância, para um país, da formação de escóis? E do bom exemplo que o Colégio Militar pode constituir para outras escolas do nosso país? Existem dúvidas sobre a indispensabilidade da instituição militar?
Pugnar pela extinção do Instituto de Odivelas, do Instituto dos Pupilos do Exército e do Colégio Militar mais não é do que uma forma encapotada e ardilosa de atacar a existência da instituição militar.
Ex-aluno do Colégio Militar (curso de entrada de 1972), jurista/gestor
Comentários
Isto das realezas e sectaritarismos já teve o seu tempo e o tempo que vivemos não se governa de saudozismos.
Os meus filhos precisam de um futuro, nao de continuar a ter os pais a pagar chapinhas na lapela.