Mosteiro de Santa Clara (Vila do Conde)
O célebre Mosteiro das Clarissas de Vila do Conde foi fundado por D. Afonso Sanches, filho bastardo do rei D. Dinis, e por sua mulher D. Teresa Martins de Meneses, descendente de D. Sancho I e de D. Maria Pais Ribeira, a famosa «Ribeirinha», por cuja via herdara o senhorio daquela vila.
Começou a ser construído em 1319, depois de obtida a respetiva autorização do papa João XXII, prolongando-se as obras pelas centúrias seguintes, com a remodelação de algumas dependências e a construção de outras, que as crescentes necessidades impunham. Os decretos liberais de 1834 viriam a condená-lo a uma lenta e penosa agonia, que culminou com a morte da última freira professa em maio de 1893. A partir de então, agravou-se consideravelmente a desoladora miséria de que o mosteiro vinha dando sinais, entrando todo o conjunto num avançado processo de degradação, que só seria interrompido com as obras de restauro realizadas entre 1928 e 1932 sob a égide dos Monumentos Nacionais.
Do edifício medieval resta apenas a magnífica igreja gótica, em cujo interior se encontram belíssimos exemplares da tumulária e da marcenaria nacionais. Esta primitiva dependência conventual esconde-se por detrás do majestoso edifício setecentista dos chamados «dormitórios novos», que se ergue sobranceiro à margem sul do Rio Ave, verdadeiro espelho da sua majestade.
A igreja medieval, na opinião de Pedro Dias, «representa um marco importante na evolução da arte do Norte de Portugal, mostrando-se muito mais liberta da tutela da tradição românica». O seu corpo, com exceção da frontaria, é totalmente coroado por merlões chanfrados, mas a sua aparência militar é significativamente atenuada pela elegância das janelas.
A frontaria, composta por alto retângulo terminado em empena e amparado por dois gigantes, é apenas rasgada pela bela rosácea, pois, tal como é habitual nas igrejas clarissas, não existe porta axial, processando-se a entrada através de um pórtico de arquivoltas apontadas situado no lado norte.
Exteriormente, o mais puro trecho gótico é formado pela notável cabeceira poligonal, vigorosamente estruturada e ritmada pelos salientes contrafortes, que tanto reforçam os muros da abside como os dos absidíolos, em cujas faces se rasgam elegantes frestões, simples e mainelados, resultando de tudo isto uma soberba composição de volumes e belos efeitos de iluminação.
O templo, de admiráveis proporções, é de planta em cruz latina, com o corpo formado por uma única nave em que os coros ocupam a maior parte da extensão, parecendo assim reduzir-se a uma cruz grega. A capela-mor, que abre por um arco de granito finamente lavrado e datado de 1526, possui uma esplêndida abóbada de pedra polinervada, em que um dos bocetes é decorado com o brasão do príncipe fundador, observando-se nos absidíolos uma cobertura semelhante.
A Capela dos Fundadores, construída por iniciativa da notável abadessa Soror Isabel do Presépio, está inserida no corpo da igreja logo à esquerda da entrada, abrindo para a nave através de um amplo arco de ornamentação manuelina. Apresenta uma belíssima abóbada de pedra de nervuras fechadas por bocetes, de arrojada composição, e alberga no seu interior os túmulos de pedra de Ançã de D. Afonso Sanches e D. Teresa Martins de Meneses, com estátuas jacentes e arcas ricamente decoradas, justamente considerados entre os mais belos exemplares da escultura tumular de estilo manuelino. Terão sido executados cerca de 1526 e são atribuíveis à oficina coimbrã do importante escultor Diogo Pires, o Moço. Nesta capela encontram-se ainda os sarcófagos de dois filhos dos fundadores, mortos de tenra idade.
No transepto encontram-se ainda dois outros túmulos, embora de maior sobriedade: no lado do Evangelho está colocado o mausoléu da condessa de Barcelos D. Brites Pereira, filha única e herdeira do Santo Condestável, vislumbrando-se no lado oposto o sarcófago «com estátuas jacentes a par» dos condes de Cantanhede D. Fernando de Meneses e D. Brites de Almeida, ele terceiro neto dos fundadores e nomeado protetor do mosteiro pelo rei D. Duarte.
A nave e o transepto são cobertos por um aparatoso teto seiscentista de madeira, em caixotões ricamente decorados, que se pode contar entre os melhores que subsistem no País. Notáveis exemplares da marcenaria nacional são ainda o cadeiral do coro baixo, o órgão seiscentista, o púlpito de pau-preto e o teto que cobre a sacristia atualmente instalada na antiga casa do capítulo, para ali transferido da primitiva dependência quando o edifício foi restaurado.
O claustro do antigo cenóbio encontra-se reduzido a três renques de arcos abatidos assentes em colunas toscanas com ábacos salientes, erguendo-se no centro do pátio lajeado a belíssima fonte barroca de granito, que fora o ponto terminal do aqueduto. Destinado a abastecer de água o mosteiro, este grandioso monumento composto por 999 arcos levantados entre 1705 e 1714 marcava espetacularmente algumas perspetivas do burgo, e só a insensatez dos homens permitiu que alguns trechos tivessem sido destruídos.
A imponente mole do edifício dos «dormitórios novos», cuja escala ainda mais se agiganta quando confrontado com o modesto casario ribeirinho, foi construído na segunda metade do século XVIII. A sua conceção revela grande erudição e excecional qualidade, resultando tanto a nível exterior como interior numa harmoniosa e equilibrada composição em que são visíveis as soluções ditadas pela nova estética de inspiração clássica.
A majestosa fachada sul é composta por três longas fileiras de janelas sobrepostas, habilmente divididas em cinco corpos pelos possantes contrafortes que à medida que sobem se vão adelgaçando, transformando-se em pilastras geminadas nos dois últimos andares, sendo o coroamento marcado pela cornija de forte relevo e pelos altos fogaréus que se erguem em correspondência às mesmas pilastras; o corpo central, de cantaria granítica, possui elegantes balcões de balaustrada e é encimado por um frontão trangular, observando-se no tímpano o escudo régio e no acrotério o grupo escultórico da Religião.
Foi classificado Monumento Nacional por decreto de 16 de junho de 1910.
Começou a ser construído em 1319, depois de obtida a respetiva autorização do papa João XXII, prolongando-se as obras pelas centúrias seguintes, com a remodelação de algumas dependências e a construção de outras, que as crescentes necessidades impunham. Os decretos liberais de 1834 viriam a condená-lo a uma lenta e penosa agonia, que culminou com a morte da última freira professa em maio de 1893. A partir de então, agravou-se consideravelmente a desoladora miséria de que o mosteiro vinha dando sinais, entrando todo o conjunto num avançado processo de degradação, que só seria interrompido com as obras de restauro realizadas entre 1928 e 1932 sob a égide dos Monumentos Nacionais.
Do edifício medieval resta apenas a magnífica igreja gótica, em cujo interior se encontram belíssimos exemplares da tumulária e da marcenaria nacionais. Esta primitiva dependência conventual esconde-se por detrás do majestoso edifício setecentista dos chamados «dormitórios novos», que se ergue sobranceiro à margem sul do Rio Ave, verdadeiro espelho da sua majestade.
A igreja medieval, na opinião de Pedro Dias, «representa um marco importante na evolução da arte do Norte de Portugal, mostrando-se muito mais liberta da tutela da tradição românica». O seu corpo, com exceção da frontaria, é totalmente coroado por merlões chanfrados, mas a sua aparência militar é significativamente atenuada pela elegância das janelas.
A frontaria, composta por alto retângulo terminado em empena e amparado por dois gigantes, é apenas rasgada pela bela rosácea, pois, tal como é habitual nas igrejas clarissas, não existe porta axial, processando-se a entrada através de um pórtico de arquivoltas apontadas situado no lado norte.
Exteriormente, o mais puro trecho gótico é formado pela notável cabeceira poligonal, vigorosamente estruturada e ritmada pelos salientes contrafortes, que tanto reforçam os muros da abside como os dos absidíolos, em cujas faces se rasgam elegantes frestões, simples e mainelados, resultando de tudo isto uma soberba composição de volumes e belos efeitos de iluminação.
O templo, de admiráveis proporções, é de planta em cruz latina, com o corpo formado por uma única nave em que os coros ocupam a maior parte da extensão, parecendo assim reduzir-se a uma cruz grega. A capela-mor, que abre por um arco de granito finamente lavrado e datado de 1526, possui uma esplêndida abóbada de pedra polinervada, em que um dos bocetes é decorado com o brasão do príncipe fundador, observando-se nos absidíolos uma cobertura semelhante.
A Capela dos Fundadores, construída por iniciativa da notável abadessa Soror Isabel do Presépio, está inserida no corpo da igreja logo à esquerda da entrada, abrindo para a nave através de um amplo arco de ornamentação manuelina. Apresenta uma belíssima abóbada de pedra de nervuras fechadas por bocetes, de arrojada composição, e alberga no seu interior os túmulos de pedra de Ançã de D. Afonso Sanches e D. Teresa Martins de Meneses, com estátuas jacentes e arcas ricamente decoradas, justamente considerados entre os mais belos exemplares da escultura tumular de estilo manuelino. Terão sido executados cerca de 1526 e são atribuíveis à oficina coimbrã do importante escultor Diogo Pires, o Moço. Nesta capela encontram-se ainda os sarcófagos de dois filhos dos fundadores, mortos de tenra idade.
No transepto encontram-se ainda dois outros túmulos, embora de maior sobriedade: no lado do Evangelho está colocado o mausoléu da condessa de Barcelos D. Brites Pereira, filha única e herdeira do Santo Condestável, vislumbrando-se no lado oposto o sarcófago «com estátuas jacentes a par» dos condes de Cantanhede D. Fernando de Meneses e D. Brites de Almeida, ele terceiro neto dos fundadores e nomeado protetor do mosteiro pelo rei D. Duarte.
A nave e o transepto são cobertos por um aparatoso teto seiscentista de madeira, em caixotões ricamente decorados, que se pode contar entre os melhores que subsistem no País. Notáveis exemplares da marcenaria nacional são ainda o cadeiral do coro baixo, o órgão seiscentista, o púlpito de pau-preto e o teto que cobre a sacristia atualmente instalada na antiga casa do capítulo, para ali transferido da primitiva dependência quando o edifício foi restaurado.
O claustro do antigo cenóbio encontra-se reduzido a três renques de arcos abatidos assentes em colunas toscanas com ábacos salientes, erguendo-se no centro do pátio lajeado a belíssima fonte barroca de granito, que fora o ponto terminal do aqueduto. Destinado a abastecer de água o mosteiro, este grandioso monumento composto por 999 arcos levantados entre 1705 e 1714 marcava espetacularmente algumas perspetivas do burgo, e só a insensatez dos homens permitiu que alguns trechos tivessem sido destruídos.
A imponente mole do edifício dos «dormitórios novos», cuja escala ainda mais se agiganta quando confrontado com o modesto casario ribeirinho, foi construído na segunda metade do século XVIII. A sua conceção revela grande erudição e excecional qualidade, resultando tanto a nível exterior como interior numa harmoniosa e equilibrada composição em que são visíveis as soluções ditadas pela nova estética de inspiração clássica.
A majestosa fachada sul é composta por três longas fileiras de janelas sobrepostas, habilmente divididas em cinco corpos pelos possantes contrafortes que à medida que sobem se vão adelgaçando, transformando-se em pilastras geminadas nos dois últimos andares, sendo o coroamento marcado pela cornija de forte relevo e pelos altos fogaréus que se erguem em correspondência às mesmas pilastras; o corpo central, de cantaria granítica, possui elegantes balcões de balaustrada e é encimado por um frontão trangular, observando-se no tímpano o escudo régio e no acrotério o grupo escultórico da Religião.
Foi classificado Monumento Nacional por decreto de 16 de junho de 1910.
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