As crianças deviam votar

Inês Teotónio Pereira
DN 20160618

Os meus filhos fartam-se de juntar dinheiro. São profissionais em arrecadar moedas pretas que se espalham no carro, negoceiam as moedas de 50 cêntimos que enfiamos nos carrinhos do supermercado e guardam religiosamente o dinheiro que lhes oferecem nos anos. Depois, gastam o nosso dinheiro. São peritos em gastar o nosso dinheiro. O deles é intocável, e tão valioso que só serve para juntar, tipo coleção de caricas. O nosso serve para comprar gelados, ir ao cinema, comprar chuteiras e sustentar vícios infantis como cadernetas e cromos. Não lhes passa pela cabeça gastar aquelas moedinhas todas, que justificam a utilidade das carteiras cheias de divisórias, em parvoíces. Há limites para a brincadeira.
Os meus filhos deviam votar. Todos os filhos deviam votar. Eles jamais iriam na cantiga de oferecer metade do conteúdo da sua carteira ao Estado para este gastar em coisas parvas. Fariam birras insuportáveis. Exigiriam saber por que raio de carga de água é que as suas moedas seriam entregues a pessoas como Armando Vara ou Mário Nogueira ou Carlos Santos Silva seus amigos ou tantos outros. Seguiriam o rasto do dinheiro como cães de caça e morderiam as canelas de quem o gastasse mal. Haveria sangue. Experimentem ir à carteira dos vossos filhos para comprar o último modelo da Bimby ou um candeeiro de Siza Vieira para o quarto deles ou um estudo qualquer sobre um projeto parvo que até-era-giro-mas-não-vai-dar, e verão a cor do sangue.
Se as crianças votassem não sobreviveriam maus gestores e péssimos políticos. Era tudo corrido com revoluções feitas de birras, petardos de fraldas a transbordar de diarreia e papa Cerelac despejada nas cabeças dos sinistros negociadores de negócios ruinosos como a TAP, a CGD, as Refer desta vida, as PPP e as cedências aos estivadores. Não ficava ninguém de pé. Os nossos filhos votariam com uma única orientação: quem vai gastar e como vai gastar as minhas moedinhas? As crianças não são parvas e por isso não admitem esvaziar a carteira em coisas parvas. Para isso têm os pais, que estão habituados a sustentar socialistas desde tenra idade. E que ainda chamam a isso democracia.

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