O LENTO CAMINHO DA VIRTUDE

José Luís Nunes Martins 
Facebook | 25 de abril de 2015 
O caminho que sobe é o mesmo que desce. A prática de uma qualquer virtude supõe a realização de uma grande quantidade de atos no mesmo sentido. Não há heróis de um gesto só. Ninguém chega a ser bom de um momento para o outro. As grandes obras são consequência de percursos em que a vontade se sobrepõe à natureza passiva repetidas vezes.
A virtude, tal como a vida, nunca é um hábito.
Um vício submete sempre a vontade, levando-a a desistir e a entregar-se, de cada vez que é seduzida a cair. O caminho que leva a uma qualquer perdição faz-se de forma progressiva. Ninguém chega a ser mau de súbito. Os grandes disparates aparecem na sequência de outros disparates, menores, que vão corrompendo com paciência e determinação os alicerces da nossa liberdade, a fim de que, convencidos de que somos mesmo assim, aceitemos fazer o que nos prejudica e arruína a nossa verdadeira felicidade.
São mais os hábitos que temos do que aqueles que reconhecemos… O medo do desconhecido leva muitos a nunca se afastarem dos trilhos que já conhecem. As rotinas são difíceis de combater, pois instalam automatismos no lugar onde deviam comandar a espontaneidade e a liberdade. Há muita gente que chega a um certo momento da sua vida e pára de evoluir, deixando de se aperfeiçoar. Julgam ter-se encontrado… mas perderam-se. Na verdade, nenhum homem é estático, garantido e consumado. Só os mortos assim são…
O aperfeiçoamento pessoal a que todos somos chamados supõe firmeza, tranquilidade e sacrifícios contínuos. Ultrapassar estes sofrimentos pequenos é bem mais difícil do que enfrentar um ou outro dos grandes. A virtude passa muito pela renúncia e pelo sofrimento, e estes, quando em doses mínimas persistentes, conseguem tocar na nossa intimidade. Eis um dos grandes e mais simples segredos da virtude: resistir à insistência constante das pequenas tentações.
Ser virtuoso é fazer aquilo que, sendo possível, a muitos parece impossível. Na verdade, será sempre mais fácil do que parece. A dificuldade está em mantermos a mesma atitude face às mais diversas formas que o mundo encontra de nos inquietar e desviar do nosso melhor caminho. E depois há a solidão... os verdadeiros heróis não têm plateia e não contam com ela. Escolhem o que é certo porque é certo, nunca para obterem a aprovação de um qualquer julgamento alheio.
É longe do olhar dos outros que me revelo como sou. Um herói, um vilão ou uma insignificância comum…
Qualquer vida se torna absurda quando quem a devia governar se deixa levar pela estagnação dos mesmos hábitos…
Nada acontece por acaso e não há saltos inexplicáveis. Muitas vezes, será a nossa limitação de compreender que justifica que julguemos ser caos o que é uma ordem superior. Todos os momentos têm um sentido, seja a subir ou a descer. A virtude perfeita dos heróis simples é construírem, passo a passo, uma fuga à parte egoísta da natureza de cada um de nós. A verdadeira coragem e ousadia passam por não sermos normais, vulgares, mas sim extraordinários na nossa forma de lidar com a vida e com o tempo que nos são dados. Em paz, devemos fazer guerra à preguiça das fraquezas… e, em silêncio, resistir às tentações de tudo quanto não nos engrandece.
Devemos ser prudentes e justos, exercitando a nossa razão em favor do nosso maior bem, da nossa alegria mais profunda.
Devemos ser fortes e temperantes, buscando sempre garantir toda a pureza possível para as nossas emoções.
Inteligência sensível, coração forte.

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