DO ESTRANHO AO ÍNTIMO

José Luís Nunes Martins, Facebook, 2015.03.21

Somos muito o que escolhemos ser e isso passa pelos exemplos que decidimos seguir... de quem queremos e não queremos ter por perto.
Entre o que me é estranho e o que me é íntimo, há tudo aquilo que me está próximo. O que me envolve e o que eu envolvo. Aquilo de que me aproximo mas também aquilo de que me afasto. 
Perto. Esse é também um pedaço importante do meu mundo, que tem significado, rumo e valor para mim... é por aí que posso crescer e dar sentido à realidade possível, ao meu futuro e ao dos que me estão perto.
O céu não é um vazio infinito, mas a morada dos que pelas suas ações se fazem maiores. Os egoístas vivem cada um em seu buraco. 
Perto... dos que eu quero que estejam próximos. Sim, porque há quem não esteja presente de forma evidente, mas a vontade de partilhar a minha vida com a deles basta para os tornar próximos, alcançando-os a partir do meu mais íntimo... do fundo do meu ser.
Há quem esteja fisicamente perto, mas não esteja ali... Na presença desses, estamos sozinhos.
Amar é aceitar. Acolher o outro, fazer que o estranho se aproxime e o próximo se torne íntimo... que fique ali, perto, onde possa ser tocado pelas nossas mãos... onde, juntos, possamos ser bons.
No amor, apenas as intimidades devem estar em comunhão. Sem confusão, sem exclusão, sem que se anule parte alguma de cada um. Há quem se faça demasiado próximo e por isso anule o outro. Não. É preciso que haja espaço e tempo para que cada um possa ser quem é e o quer ser. Não se trata de nos defendermos, mas tão-só de respeitarmos o outro. 
O caminho de cada um de nós é longo e a nossa peregrinação vale sempre muito mais do que o conforto momentâneo de qualquer estabilidade. 
Há quem prefira partir do que chegar. Quem busque descobrir todos os cantos e mistérios do mundo... mas há também quem apenas queira ser feliz em qualquer lugar, buscando-se a si mesmo... nos outros. Só quem se busca se pode encontrar. Muitos são os que andam perdidos... mas o amor implica uma saída de si, uma aceitação do outro como outro, não como alguém em quem posso (e julgo dever) replicar o que sou. Só quando me esqueço de mim posso descobrir a verdade do outro. Apenas o olhar dos que nos amam importa, porque só esse nos vê, só esse nos revela quem somos.
À solidão não se opõe a multidão, mas o amor. Aquilo de que alguém abandonado está à procura é de alguém próximo, não do aplauso de um monte de gente.
Eu faço-me no meu caminho. Quando nele me encontro com outro. 
O meu caminho é um percurso de fé. Onde alargo o real de cada vez que o torno possível... 
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José Luís Nunes Martins
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21 de março de 2015
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Ilustração de Carlos Ribeiro

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