Leitura nacional

Montanha de Sísifo
Estando quase encerradas as contagens, chegou a hora de fazer algumas contas. José António Seguro já veio proclamar uma vitória retumbante do PS e veio falar na inevitável leitura nacional dos resultados. Façamos então a leitura nacional dos resultados usando a melhor ferramenta para isso: os números.
Comecemos pela distribuição de votos nas Câmaras Municipais:
A CDU foi o grande vencedor da noite, aumentando a % de votos em 17,9%, enquanto que a coligação de governo e Bloco de Esquerda perderam 13,2% e 16,7% respectivamente. Note-se que o PS, após dois anos da oposição mais fácil que um partido pode fazer, apenas ganhou 1,4% (0,5 pontos percentuais). Em relação aos partidos de governo, uma perda de 13,2%, ou 5,7 pontos percentuais, é significante mas mesmo assim menos do que se esperaria para partidos de governo nas actuais condições políticas e económicas. Mas estes números escondem uma outra realidade: para fazermos de facto uma leitura nacional há que eliminar o efeito da má gestão local da escolha dos candidatos autárquicos do PSD. Os votos perdidos no Porto, Gaia e Sintra para grupos de cidadãos estão mais relacionados com a punição dos eleitores às fracas escolhas de candidatos do que propriamente uma reacção às políticas do governo. Rui Moreira, por exemplo, fez uma campanha ideologicamente mais próxima do governo do que o próprio candidato do PSD. É claramente um candidato da área política dos partidos de governo, apesar de não se terem candidatado por nenhum deles. Em Gaia e Sintra, ambos os candidatos de movimentos independentes estão ligados ao PSD local. Somados os votos dos grupos de cidadãos de Porto, Gaia e Sintra ligados a facções do PSD locais, temos a seguinte imagem:
Eliminado este efeito, a % de votos nos partidos da coligação governamental sobe para 39,7%, apenas 3.5 pontos percentuais abaixo dos resultados de 2013. Note-se que chegam até a ultrapassar os votos no PS. A leitura nacional começa a ficar negra para o PS. Mas é ainda mais negra para o PS de Seguro. O maior concelho do país, Lisboa, foi ganho pelo representante dos seus opositores internos, contribuindo em larga margem para o aumento na % de votos a nível nacional. Excluindo Lisboa, o cenário é este:
Dois anos de austeridade depois, tudo o que o PS de Seguro tem para mostrar são uns míseros 0,2 pontos percentuais de aumento no número de votos. Mas há mais más notícias para o PS: a Madeira. Misturado nos resultados do PSD está o caso, bastante excepcional, da Madeira. Aí dificilmente se poderá argumentar que os eleitores estão a castigar o governo nacional. O resultado da votação é um sinal claro do desejo de mudança ao nível regional. Do ponto de vista ideológico, Alberto João Jardim está até bastante mais próximo do PS do que do actual PSD. Se também excluirmos a Madeira da imagem, esta é a distribuição de votos:
Dois anos de austeridade depois, excluindo a má gestão local de candidatos do PSD, o castigo dos eleitores a Alberto João Jardim e o efeito António Costa, Seguro não tem nada para mostrar. A área política dos partidos de governo perde apenas 2,7 pontos percentuais nos votos fora de Lisboa e Madeira. O PS de Seguro até cai ligeiramente.
Mas há uma última escapatória para Seguro que é não existir qualquer leitura nacional para estes resultados. Os eleitores escolhem as melhores pessoas para as câmaras municipais, independentemente do seu partido ou das políticas do governo central. Felizmente para António José Seguro é o cenário mais plausível.
(Nota adicional: percentagens excluem brancos e nulos do total)

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