O resto da Europa é fascista. Nós é que somos bons

Henrique Raposo (www.expresso.pt)
8:00 Quarta feira, 18 de abril de 2012
É uma das coisas mais confrangedoras e, ao mesmo tempo, mais cómicas do nosso debate público: um sujeito propõe, para Portugal, um modelo social idêntico ao existente na Suíça, Holanda ou Alemanha, mas, devido ao provincianismo da nossa esquerda, esse mesmo sujeito é rotulado de fascista, neoliberal-às-bolinhas-amarelas e, acima de tudo, salazarista. Um sujeito defende a europeização do modelo social português, propõe ideias europeias de 2012, mas, ora essa, é acusado "de desejar um regresso ao Portugal de 1950". Isto é, repito, triste e cómico ao mesmo tempo. 
Porque é que é cómico? Porque a social-democracia de países como Holanda ou Dinamarca é rotulada de "neoliberalismo" em Portugal. Olhe-se, por exemplo, para o sector da educação. Em muitos países da Europa, boa parte do ensino público é prestado por colégios privados com contrato de associação com o Estado: Bélgica, 50%; França, 20%; Espanha, 25%; Malta, 24%; Reino Unido, 16%. E, na Holanda, 70% das escolas são privadas, o que significa que a maioria dos alunos do sistema de ensino público frequenta colégios privados. Por outras palavras, o Estado holandês financia directamente o aluno, e não uma rede estatal de escolas. O Estado social holandês garante o acesso à educação a todas as crianças, mas não é o educador universal. Em Portugal, este princípio é visto como um ataque à "escola pública" e demais blá-blá da espécie. O mesmo se passa na saúde. Na Alemanha, Holanda ou Suíça, Estado Social significa um seguro de saúde para todos os cidadãos, e não uma rede de hospitais do Estado. Se o cidadão x não tem dinheiro para tal, o Estado garante o seguro ao cidadão x. O dinheiro dos contribuintes financia directamente as pessoas através de um seguro individual e, em consequência, o Estado não edifica uma rede estatal de hospitais. Em Portugal, esta prática é associada a um "regresso ao salazarismo" ou é vista como uma medida que "transforma a saúde num negócio". 
E, pronto, assim vai a vidinha neste paraíso progressista à beira mar plantado. Os outros países europeus são fascistas, neoliberais-com-batata-frita e quiçá salazaristas. Portugal é que é bom, Portugal é que sabe. É continuar assim, que a coisa está a correr bem.

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