A tarefa da política

Mario Mauro

Nunca é fácil explicar as razões que nos levam a escolher um determinado ofício. Há quem o faça por vocação, pela recompensa, por exigência, ou de modo circunstancial. Muitas razões para uma aventura que ocupará uma parte relevante da nossa vida, mas um único porquê: a paixão por um caminho que consideramos realmente pessoal. O ofício da política também consiste nisto.
Pode ser vivida de muitas maneiras: como um mero exercício do poder, como desejo de protagonismo ou como satisfação pessoal. Um caminho deste género – independentemente da direcção que assuma – não poderá ser direccionado, a longo prazo, ao encontro com o próximo;  permanecerá sempre limitado pela ideologia, sem alguma possibilidade de uma incidência real na vida dos cidadãos. Uma ideia distorcida do empenho político é uma das principais causas da desconfiança actual em relação à esfera pública. Chega-se ao ponto de afirmar que a vida quotidiana é uma coisa e as práticas de governo são outra.
De facto, existe uma dimensão que exula deste contexto; por outro lado, diante de factos trágicos que acontecem em determinado momento e revolucionam a vida para sempre, a dimensão política pode indicar uma estrada – que não elimina a dor - mas que ajuda concretamente nos momentos de dificuldade. Vimo-lo, por exemplo, no caso das terras martirizadas do Abruzzo, local para onde a União Europeia destinou 493 milhões de euros, para fazer frente à emergência do terramoto.
Poderíamos citar inúmeros exemplos por todo o mundo, basta pensar nos recentes confrontos no Irão, ou no longo estado de crise africana; pense-se nas tempestades económicas que atormentam as classes mais desfavorecidas, ou em alguns factos terríveis que turbam a opinião pública. É preciso, porém, acrescentar a estes, outros acontecimentos quotidianos – igualmente trágicos – que na sua pequenez podem alterar o curso da nossa existência. A morte prematura de uma pessoa querida, a experiência da doença, a perda de trabalho, as dificuldades familiares, não são apenas episódios ligados a uma mera esfera privada; tornam-se, pelo contrário, pequenas peças que compõem a realidade e que nos concernem pessoalmente a todos.
Nestas situações, a política também tem um peso específico. Deve saber dar um contributo digno para ajudar a sustentar as dificuldades da vida. Ainda que a política não dê um sentido às coisas, pode dar o seu contributo para o aprofundimento do significado, contribuindo com um suplemento de reflexão; até ao ponto de dar o peso e a direcção adequados ao passar dos eventos. A assistência aos doentes, a defesa das famílias, a educação dos mais jovens, dar uma nova confiança ao mundo do trabalho; todos estes podem configurar caminhos que tornam possíveis os desafios, pequenos e grandes, do quotidiano.
Se a política não se encontra com a vida, se não é capaz de tecer uma relação com a vida, isto significa que não está atenta às verdadeiras necessidades da pessoa, e que não está efectivamente empenhada na felicidade do homem. Quem faz este ofício deve saber arriscar até ao fim neste campo, sem se deixar desencorajar ou abater pelos factos; pelo contrário, é necessário procurar ser sempre protagonistas, fazendo escolhas determinadas pelo desejo de amor e de bem do próximo.

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