Qual troika

Com as notícias deprimentes que se sucedem como um anúncio a prestações de uma fatalidade, recomendo que sigamos o conselho do Miguel Esteves Cardoso. Ler: para esclarecer o sentido das palavras, para refrescar os nossos cenários, para levantar o nosso ânimo.
Bom fim de semana
Pedro Aguiar Pinto
P.S. Há também muito a fazer neste próximo mês; nenhum de nós se pode excluir da responsabilidade colectiva do nosso destino como Povo.
É preciso estar atento aos próximos dias: é, por isso, importante o esclarecimento e uma frescura no olhar para um horizonte maior do que nós! O ideal de santidade do Beato João Paulo II que continua a ser olhado de muitas diferentes perspectivas é um ajuda enorme ao esclarecimento, à frescura e à resistência à nossa sempre presente tentação para a desistência. Rogai por nós, Beato João Paulo II


Qual troika


Público, 2011-05-06  Miguel Esteves Cardoso

A troika chateia. Porque havemos nós de aturar esta palavra para falar de três anónimos mandões que não conhecemos nem escolhemos de parte nenhuma, quando tem tanta honra literária? Por exemplo, na genial primeira parte das Almas Mortas de Gogol, nomeando os três cavalos que puxam a carruagem do putredinoso Chichikov?
Nesse romance acabado, que se diz inacabado só porque a segunda parte é assim-assim e, graças a (e por culpa de) Deus, nunca foi concluída, gosto muito dos parágrafos dedicados ao cavalo do meio, esperto e preguiçoso, um proto-Oblomov, que finge tão bem quanto trabalha mal.
É nossa obrigação reter os sentidos mais giros. Uma troika nem sequer tem a nobreza musical de um trio. São somente três contabilistas que, se calhar, nem sequer gostam uns dos outros. Para uma agência de casting só ocorreriam, como exemplo negativo, numa campanha Get A Life.
A troika cavalar ou musical pertence ao mesmo estábulo semântico do que a balalaika. É um instrumento que mais tarde se explica, nas traduções de uma outra obra-prima - mais acabada - que é Oblomov, um dos livros favoritos de Beckett, escrito, como se fosse verdade ou bem achado, por Goncharov. Fica.
Ambos estes livros se devem reler por esta triste ocasião, nem que fosse só para desconfiar das palavras, estrangeiras ou portuguesas, que se dizem. O livro de Gogol é a hipocrisia; o livro de Goncharov é a verdade.
Ambos animam e relembram.
Esclarecem, refrescam, levantam.

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