Marcelo explicado aos portugueses

FERREIRA FERNANDES   DN  21.11.16

O raio do homem, Marcelo, sabe estar com pobres e com ricos, com ignorantes e sábios - o que entre nós é de espantar. Para cima, ele, que foi ministro, líder partidário, catedrático, e é Presidente, fala aos seus com à-vontade. Prudentes, preferimos não o imitar e nessa direção, de baixo para cima, continuamos com as poses tradicionais: circunspectos, pé-atrás, com mesuras e à coca (julgo ser esta a mais comum). Para baixo, o falar comum português desliza com a insídia do desprezo ou, pior, esse mesmo mas disfarçado, paternalismo. Com Marcelo, não. Ele trata cada um como se fosse o seu interlocutor naquele momento. Conversa. Troca palavras. Tal como é para cima, também para baixo. Ele é uma lição de democracia em andamento que não temos aproveitado como devíamos. Mas acaba por ser uma irritante lição, como são todas que são simplesmente civilidade, a normalidade entre iguais. Há quem não goste, sobretudo daquele tu-cá-tu-lá popular, que ainda por cima tem o inconveniente de não poder ser descaradamente combatido. Há dias, ele foi apanhado a falar com a rainha de Inglaterra. Viram-no e ouviram-no impertinente, ridículo, até - disse-se. Deu várias crónicas nos jornais e indignações nas redes sociais. Porém, eu vi alguém dizendo elegantemente a um símbolo que este o marcou, era ele garoto. Marcelo foi mais uma vez uma pessoa a dizer a outra que a tinha em conta. Admito, talvez seja demasiado gostar da vida e de pessoas.

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