A mentira do empate técnico

José Ribeiro e Castro,
i-online 01 de Junho de 2011

O que as sondagens dizem, uma após outra, é que o PS já perdeu. Sócrates já era. A maioria CDS/PSD deixa o PS a uma distância de 11 a 18 pontos. Alegremo-nos. Mobilizemo-nos

A campanha eleitoral está marcada por um factor de distracção. E falsa ansiedade. É a novela do "empate técnico", nutrida por sondagens várias e pela última coqueluche: as "tracking polls".
Tomemos por exemplo a Intercampus. A penúltima deu PSD com 35,8%, PS com 34,1%, CDS com 11,3%, CDU com 7,7% e BE com 6,9%. Na última, anteontem, PSD surgia com 37,0%, PS com 32,3%, CDS com 12,7%, CDU com 7,7% e BE com 5,2%. Desde o início, o PSD aparece dominantemente acima de 35%, o PS abaixo disto e atrás do PSD, o CDS entre 11% e 14%, a CDU entre 7% e 8%, o BE na casa dos 6%. Sabe-se que PS e PSD têm interesse na sugestão de um "empate técnico", para favorecer o discurso medíocre e oportunista do "voto útil" de eleitores CDS no PSD ou CDU e BE no PS. Mas os números não dizem nada disso, lendo politicamente os resultados. O "empate técnico" não passa de ilusão de óptica.
O que as sondagens dizem, uma após outra, é que o PS já perdeu. Sócrates já era. É essa flagrante verdade política que importa sublinhar, em lugar de alimentar uma ansiedade artificial que só pode dar para o torto. Nisto só o PS tem interesse, surpreendendo que, entre outros erros de campanha, porta-vozes e comentadores PSD também quisessem cavalgar a "angústia".
Indo a factos: todos os partidos, sem excepção, declararam que não governam com Sócrates. Ou seja, Sócrates só ganhará as eleições se tiver maioria absoluta. Qualquer outro resultado faz dele um derrotado.
Não interessa para nada que pudesse ser o mais votado - que, aliás, não será, segundo as sondagens. Uma eventual maioria relativa não lhe serviria para nada, pois não teria parceiro para uma maioria política na Assembleia da República. Além disso, o PS teve 36,5% nas últimas eleições. Agora todas as sondagens - apesar da manipulação do voto útil - o dão abaixo desse valor. O PS vai descer. Já perdeu.
Uma maioria relativa do PS - que, repito, as sondagens nem indicam - só relevaria com maioria de esquerda na AR. Neste caso, tanto faria que PS fosse o mais votado como o segundo mais votado. Se fosse o mais votado, o PS governaria, como aconteceu em 2009: não por ser "o mais votado", coisa que por si só serve para enganar tolos, mas porque a existência de maioria de esquerda impede a maioria de governo alternativa PSD/CDS. Se fosse o segundo mais votado, o resultado político seria substancialmente igual: o PS poderia governar sozinho ou com o resto da esquerda, a menos que o PSD, sendo o mais votado, mas não fazendo maioria com o CDS, quisesse evoluir do "bloco central de beliche" (um em cima, outro em baixo), em que funcionámos desde 2009 ou com Guterres, para o bloco central explícito, com PSD/PS lado a lado. Nesse cenário, só uma maioria do centrão poderia afastar a maioria de esquerda. Embora com um sério problema de legitimidade: tendo as pessoas votado contra Sócrates, como iria o PSD aliar os seus votos aos do PS?
Só haveria cenários críticos se se mantivesse a maioria parlamentar de esquerda. Mas as sondagens dizem que esta acabará, o que é o factor decisivo. Aquilo que as sondagens revelam é, primeiro, PSD e CDS estão ambos a subir; segundo, há nova maioria de governo PSD/CDS.
O CDS teve 10,4% em 2009. Com sondagens sempre acima dos 11% e algumas dos 13%, está a subir. O PSD teve 29,1%. Com sondagens sempre acima dos 33% e, as mais das vezes, dos 35%, está também a subir - e bastante. Esta é a boa notícia, que importa comunicar e repetir. A mudança está a chegar. O PS cai. A esquerda perde. CDS e PSD sobem ambos e são os prováveis vencedores de 5 de Junho. Com sondagens que dão a PSD e CDS somas entre 47,1% e 51,7% com uma média de 48,5%, está aí a nova maioria. É para ela que importa mobilizar ainda mais, seja no CDS, seja no PSD, consoante a livre preferência de cada um.
Não custa entender que Sócrates esconda esta verdade indesmentível - o derrotado lutador tarda a entregar os pontos. Mas que os oradores PSD embarquem na mesma onda é algo de que o sentido útil me escapa. A obsessão das elites PSD com o crescimento do CDS - que, confirmam as sondagens, não afecta o PSD e dá mais força à nova maioria - sugerem sectarismo, cegueira e falta de sentido patriótico confrangedores. A somar ao erro crasso de não ter feito a AD pré-eleitoral, a deriva de PSD-falantes contra o CDS em vez de sobre a esquerda e contra Sócrates cria perturbação no eleitorado, obscurece os sinais de mudança que as sondagens gritam e fragiliza a força da alternativa.
Ter chegado a cair na armadilha lançada por Sócrates - sempre ele - de que é primeiro-ministro quem for o mais votado, como se se tratasse da eleição de um presidente de câmara ou de junta, confirma o curso livre da insensatez e uma interpretação constitucional "lelé da cuca". Chamei--lhe "revisão constitucional à papo-seco", a última criação da campanha. Então o PSD, ganhando largo as eleições com o CDS, entregaria outra vez, por birra, o poder a Sócrates, se este conseguisse esmagar eleitoralmente o Bloco? A ser assim, o único voto útil, realmente seguro, será no CDS. É o único que não tem dúvidas: não entrega os seus votos a Sócrates, sobretudo tendo maioria com PSD.
Foquemos as eleições, nestes últimos dias. A escolha é entre a bancarrota e a recuperação. A escolha é entre Sócrates e a nova maioria CDS/PSD. Ela está aí. Não há qualquer empate técnico! Segundo as sondagens, a maioria PSD/CDS deixa o PS a uma distância de 11 a 18 pontos de avanço. Alegremo-nos. Mobilizemo-nos. Engrossemos a onda. Com respeito mútuo, com satisfação conjunta, em parceria pelo futuro, crescendo o CDS e crescendo o PSD.

Candidato do CDS/PP pelo Porto

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