Eleicoes americanas

ELEIÇÕES AMERICANAS


Diário de Notícias, 080911

Maria José Nogueira Pinto
jurista

Depois de um longo período de vantagem nas sondagens, a candidatura de Barak Obama tem vindo a perder em relação à de Jonh Mc Cain, ao ponto de alguns dos inquéritos, no passado fim-de-semana, os darem como tecnicamente empatados, na linha de 47-45. E uma sondagem Gallup dar vantagem ao candidato republicano 50-46

O estranho de tudo isto - e tem sido sublinhado por todos os analistas - é acontecer num ano em que a diferença, nas mesmas sondagens, entre Democratas e Republicanos, é altíssima (perto dos 15-20 pontos). No termo de dois períodos de Administração George W. Bush não particularmente feliz nem popular. Porque apesar da melhoria da situação militar no Iraque resultante, não só do comando carismático do general Petraeus, mas principalmente de uma adequação às realidades do país, conseguindo a adesão dos líderes locais à luta anti-terrorista, os factores críticos mantêm-se. É o custo da aventura ideológica dos neoconservadores mas também da leitura, feita por muitos americanos, desta Administração, como uma espécie de "governo dos ricos, pelos ricos e para os ricos!"

Pois apesar de tudo, Obama não descola e perde terreno. Os articulistas liberais querem atribuir tal facto a um inconfessável "racismo" subliminar. Mas talvez o que se passe seja o facto de muitos eleitores começarem a reflectir que há um ano ninguém sabia quem ele era. E se agora já sabem quem é, não sabem verdadeiramente o que pensa, pois o seu "charme" e a sua retórica não têm grande conteúdo de ideias para além de formas "vamos conseguir!", "vamos chegar!". O quê? E onde? E como? E para quê?

Jonh Mc Cain teve o mérito, talvez por ser um homem de força de espírito, de disciplina e não de capela partidária, de escapar a estes rótulos. Homem de convicções e consequente com elas, tem características que ninguém, nem os seus piores inimigos, lhe negam: é patriota, é coerente, é honesto, tem coragem de decidir.

A escolha da Vice-Presidente - Sarah Palin - uma jovem governadora de um pequeno, mas emblemático, Estado - o Alaska - provou certo. Palin fez um discurso que electrizou as bases do partido na Convenção. Bases, aliás, iguais às americanas e aos americanos médios: desde os ex-combatentes, às donas de casa interessadas e activas, passando pelos profissionais, jovens quadros e reformados. E americanos com raízes em todos os continentes - da África, da Ásia, da Hispano-América, da Europa. Esta gente empolgou-se com um discurso que tinha a ver com o valor do patriotismo, da religião, do trabalho, da família, da liberdade.

Curiosa a fúria que Palin desencadeou na esquerda "progressista", nos "liberals" americanos. E não só. As feministas atacaram-na violentamente talvez porque uma mulher mãe de família, anti-aborto, política, caçadora, dona de casa, que combateu no seu Estado os grandes interesses corporativos - inclusive os ligados ao Big Oil e ao seu próprio partido - não pode existir... Escapa ao figurino e compromete o exclusivo esquerdista, mais ainda se se pensar que pode chegar à Casa Branca.

Faltam menos de sessenta dias para a eleição presidencial. Uma eleição num país ideológicamente bem marcado e dividido entre direita e esquerda e com uma geografia regional destas orientações: Costa Nordeste e Califórnia - esquerda; Sul e Oeste - direita. E seis a sete Estados indecisos onde tudo, afinal, se vai decidir. Até ao dia 4 de Novembro muita coisa se poderá passar mas, para já, a dupla republicana mostrou convicções, coerência e ligação ao seu povo.
O que já não é pouco.

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