Sócrates: a Justiça a mudar ou a exagerar?

Henrique Monteiro |  Expreso
9:32 Sábado, 22 de novembro de 2014

Conheci José Sócrates há cerca de 30 anos, era ele líder da Federação Distrital de Castelo Branco do PS. Foi António Guterres quem mo apresentou, quando na altura, como jornalista, fazia um trabalho relacionado com o Partido Socialista.
Acompanhei a sua carreira de longe. Mudou-se para Lisboa quando foi eleito deputado, onde começou por ter uma vida discreta e modesta. Mais tarde, já no Governo Guterres, admirei-lhe a coragem e o modo direto como lidava com certos lóbis - recordo a coincineração, processo em que enfrentou inclusive históricos do PS, como Manuel Alegre.
Como primeiro-ministro tomou medidas importantes, mas as minhas relações com ele deterioraram-se quando pretendeu que eu cometesse uma falta deontológica, não publicando um artigo sobre a sua licenciatura. A partir daí, acho que conheci outro José Sócrates: arrogante, capaz de mentir descaradamente (ou talvez acreditando nas suas mentiras) e implacável.
Nada disto chega para prender alguém num aeroporto, sobretudo quando não vai a partir, mas a chegar. Haverá suspeitas de crime grave? Não sei quais. Do que se fala - tráfico de influência, branqueamento de capitais e corrupção - nada sei. Espero, pacientemente, que a Justiça dê explicações.
Há algo na Justiça a mudar - vejam-se as prisões de altos dirigentes do Estado ou as condenações de Maria de Lurdes Rodrigues ou Armando Vara - mas temo que haja alguém que na Justiça ande a exagerar - a condenação da ex-ministra da Educação parece-me manifestamente exagerada. Digo isto com as naturais reservas de não ser jurista. 
Politicamente, no entanto, a detenção de Sócrates é complexa para uma parte do PS que se revia no seu estilo truculento. Do meu ponto de vista, um estilo que rompia com a melhor tradição socialista, mas que foi deixando apaniguados e seguidores. É também um enorme desafio à Justiça. Um erro cometido com Sócrates não é igual a um erro cometido com um cidadão qualquer. Tendo sido primeiro-ministro, a sua detenção é a esta hora notícia em quase todos os jornais internacionais e o seu processo vai ser seguido com atenção redobrada.
Perante isto, só posso desejar o que, normalmente pedem os advogados no final dos processos: que se faça Justiça! 

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