Um clube que é o retrato do país

Henrique Raposo
Expresso on-line  Quarta feira, 22 de maio de 2013
Já conhecemos a história do Paços de Ferreira. Com um orçamento sem a alavanca mentirosa do crédito e com as contas em dia, este clube chegou à Liga dos Campeões com uma equipa cheia de portugueses. Uma lição de humildade num país de faz-de-conta, um faz-de-conta alimentado pelo recurso permanente à dívida. Mas o Paços não está sozinho. O Arouca chegou à I Liga com um espírito semelhante. Como diz o presidente, Carlos Pinho, "despesa comigo não funciona", e a filosofia passa por "pagar a horas", o que significa que ali não se pagam balúrdios. Mas, como é óbvio, as melhores estórias até estão escondidas na realidade poeirenta dos campeonatos inferiores. 
Em junho de 2011, o Esmoriz estava no oitavo lugar da 2.ª divisão nacional (zona centro), garantindo assim a permanência nos campeonatos nacionais. A direcção, porém, decidiu desistiu da prova e inscreveu o clube no escalão mais baixo dos distritais de Aveiro. José Vasconcelos, presidente, explicou ao JN a decisão: o Esmoriz devia 70 mil euros a jogadores e fornecedores e precisava de 200 mil euros para jogar na 2ª divisão nacional. "Decidimos desistir, pagar as dívidas e reorganizar o clube". Por outras palavras, era necessário acabar com o fingimento. Como é que um clube com apenas 400 sócios podia ter tantas dívidas? Perante esta realidade, José Vasconcelos optou por aquilo que ficou conhecido por austeridade: "o clube passou a viver dentro das suas possibilidades e nem sempre é fácil". Austeridade? Prefiro falar em fim do fingimento. Agora, o Esmoriz tem uma sede nova para captar mais sócios, um relvado novo e baixou a dívida para 15 mil euros. E o futuro? "O clube não pode entrar em loucuras. Vamos para a 1ª Distrital só com a ideia de lá ficarmos. Importante é ser cumpridor. Chega de Dívidas". Brindo a José Vasconcelos e ao Esmoriz.
Esta estória é uma representação futebolística da história recente do país: o maior choque que estamos a viver é aquele que resulta da ausência de crédito, essa coisa que nos permitia fingir, essa coisa que nos permitia meter uns saltos altos quando, na verdade, só conseguimos andar de sabrinas. É como diz o presidente do Esmoriz: "o clube passou a viver dentro das suas possibilidades e nem sempre é fácil". Quando decidiu acabar com o fingimento e baixar de divisão, "foi uma carga de trabalhos. Chamaram-nos de tudo". 

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