Garzón e as liberdades

DESTAK | 21 | 02 | 2012   18.54H
José Luís Seixas
E se Baltazar Garzón fosse um juiz conotado com a direita? O Juiz merece todos os encómios pela coragem que revelou na perseguição da ETA e no desmantelamento dos GRAPO. Fê-lo de cara descoberta, sem medo de ameaças. Experimentou o poder como ministro de um governo socialista. Voluntarismo efémero, como todos os voluntarismos. Demitiu-se desiludido. Regressado à judicatura evidenciou-se com decisões eivadas de um “justicialismo” histórico que provocou o deleite dos media e da esquerda asséptica.
Assim foi com o mandado de captura de Pinochet e com as ordens de exumação de cadáveres e outras diligências congéneres decorrentes de uma “rigorista” interpretação da Lei da Memória Histórica que fez regressar os espanhóis aos tempos da guerra civil, onde nem tudo foi propriamente a branco e preto. A esquerda política exultou e transformou-o num ícone. Só que, em investigação que envolvia sectores financeiros ligados à direita, Garzón ordenou que as conversas telefónicas entre os arguidos e os seus defensores fossem objecto de escutas.
Violou, assim, direitos fundamentais que conformam pilares do Estado de Direito. Garzón, o designado “juiz das liberdades”, fê-lo. E, por isso, o poder judicial puniu-o. A esquerda europeia verbera a “perseguição” do seu Juiz. Pergunta-se: o que diria se semelhante comportamento fosse atribuído a um juiz conotado com a direita? Falaria de “barbárie” e consideraria a suspensão de funções sanção desproporcionada à gravidade do delito. A objectividade é um estado de espírito que decorre da lucidez. E a paixão política cega. Só assim se compreendem alguns comentários que pululam por aí.

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