Por que há seis vezes mais homens com sida do que mulheres?

Público, 14.08.2009, José Maria André
Preocupam-se mais em descolar os homossexuais portugueses da sida em vez de os ajudar na realidade
Talvez por não se conhecerem os dados estatísticos, e portanto sem má vontade, estão a aparecer na imprensa muitos artigos de protesto contra o presidente do Instituto Português do Sangue, por o instituto não aceitar dadores homossexuais.
A convergência deste ataque pessoal já despertou certamente a sensibilidade democrática de muitos leitores, que reagem, incomodados, quando pressentem manipulação por trás das opiniões concertadas. Este caso já foi longe de mais e urge esclarecê-lo. Talvez tenha havido simples precipitação, sem desejo de enganar, mas um equívoco em questões tão importantes não pode eternizar-se sem uma informação mais correcta.
A confusão começou por não se terem divulgado devidamente os dados alarmantes da incidência de sida e de outras doenças sexualmente transmissíveis entre os homossexuais portugueses. Admito que a intenção nasceu de um gesto de simpatia para com eles, mas o resultado de omitir esta informação não ajudou ninguém e ameaça inquinar as decisões médicas com critérios ideológicos.
A maioria dos cidadãos que queira consultar os relatórios sobre a sida que mencionam a homossexualidade não os encontra disponíveis. Quem lida melhor com a informação estrangeira descobre elementos que relacionam inequivocamente as doenças sexualmente transmissíveis com as práticas homossexuais e é levado naturalmente a pensar que o nosso país não será excepção. Mas, pelos vistos, as pessoas não estão despertas para o assunto e pronunciam-se sem fazerem a pesquisa.
Apesar de todo o pudor em falar destas coisas, há um dado que passou incólume no crivo da boa educação portuguesa: ano após ano, o Instituto Nacional de Estatística continua a publicar o número de casos de sida entre homens e mulheres. Ano após ano, continua a haver em Portugal seis vezes mais homens com sida do que mulheres. Isto não é um caso de saúde? Ninguém se preocupa com este facto? Preocupam-se mais em descolar os homossexuais portugueses da sida, na opinião pública, em vez de os ajudar na realidade?
Sabe-se que, se se conseguisse dominar a propagação da sida entre os homens, o número de ocorrências entre as mulheres praticamente desapareceria, porque a maioria das mulheres que estão infectadas foram contagiadas por homens, os quais constituem 80 a 90% da população infectada com este vírus.
O vírus da sida não é o único que se transmite sobretudo por via sexual, nem é o que mais vítimas ocasiona, mas tem a característica (comum a alguns outros) de se poder contagiar através do sangue. Não é razoável fechar os olhos à realidade, em nome de preceitos ideológicos. Não desejamos o contágio deste vírus a ninguém, e esforçamo-nos por não ofender a sensibilidade de quem quer que seja, mas a politiquice está a chegar a um nível inaceitável, em que interfere gravemente com decisões profissionais.
Não conheço o presidente do Instituto do Sangue. Nunca o vi, nem ouvi e ignoro completamente o seu quadrante partidário ou as suas preferências ideológicas. Sei apenas uma coisa: estou-lhe grato pela coragem de enfrentar mais esta possidoneira politicamente correcta. E está de parabéns pela boa educação - que faltou aos que o atacaram -, pois verifico, pelo que acompanho na imprensa, que manteve a calma.
Direcção da Federação Portuguesa pela Vida, professor do Instituto Superior Técnico

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